Brasil pode ser polo gerador de inovação em áreas como agronegócio, saúde, serviços financeiros e exploração de petróleo em águas profundas
O portal da ABES entrevistou Luiz Egreja, responsável pelas Soluções de Manufatura da Dassault Systèmes, associada da entidade, sobre o tema e os planos da empresa para o mercado nacional. De acordo com o executivo, a 4ª revolução industrial é “antes de tudo uma questão estratégica, pois lida com a competitividade das empresas em um novo ambiente de negócios ainda mais dinâmico e agressivo”, fundamentada na combinação de várias tecnologias. Confira:
1. Como você define a Indústria 4.0?
A Indústria 4.0 ou 4ª Revolução Industrial designa um novo modelo de produção industrial que se vale das mais modernas tecnologias para permitir a entrega ao mercado de novos produtos e serviços, muitas vezes por meio de modelos de negócios inovadores, de modo a fornecer experiências únicas aos consumidores, de forma competitiva. Envolve diversas tecnologias, como Internet das Coisas (IoT), Manufatura Aditiva ou Impressão 3D, novos materiais, computação na nuvem, Big Data e muitas outras, mas não é uma questão puramente tecnológica. Trata-se antes de tudo de uma questão estratégica, pois lida com a competitividade das empresas em um novo ambiente de negócios ainda mais dinâmico e agressivo.
2. Quais os papéis desempenhados pela França e os Estados Unidos nesse cenário de revolução tecnológica?
França e Estados Unidos, que têm perfis e vocações industriais distintas da Alemanha, estão desenvolvendo suas próprias iniciativas da Indústria 4.0 com características diferenciadas. A França tem um foco em educação e capacitação das pessoas, na padronização das tecnologias e no apoio às pequenas e médias empresas. Os Estados Unidos, por sua vez, estão se focando mais em processos e modelos de negócio, incentivando a inovação via startups. Como nenhum desses países tem o mesmo foco que a Alemanha, ambos firmaram acordos de parceria para aproveitar os desenvolvimentos no âmbito da Indústria 4.0 no nível de equipamentos industriais e automação, enquanto se focam em desenvolver o que consideram prioritário, conforme suas necessidades e vocações.
3. Como a empresa vê a participação do Brasil neste cenário? O país pode ser considerado um polo gerador de inovações tecnológicas?
O Brasil tem potencial para ser um polo gerador de inovação, mas para isto algumas condições precisam ser atendidas. Talvez a primeira seja a criação de um ambiente de negócios propício à inovação, onde empresas estabelecidas, novos empreendedores, a comunidade acadêmica e científica e os demais membros da sociedade tenham o acesso aos meios e a segurança institucional para investir e correr os riscos inerentes à inovação. Outro ponto fundamental é definir a nossa vocação como gerador de tecnologia inovadora. Nenhum país consegue ser líder em inovação em todas as áreas, e é necessário eleger as prioridades com inteligência. Acreditamos que o Brasil pode ter muito sucesso inovando em áreas como o agronegócio (incluindo toda a cadeia, do aprimoramento genético à produção de equipamentos agrícolas), em serviços financeiros, em exploração de petróleo em águas profundas, na saúde, para citar algumas. No entanto, os modelos de negócio, as políticas industriais e de incentivo à inovação ainda precisam ser desenvolvidos ou aprimorados. A Dassault Systèmes acredita no potencial do Brasil para gerar inovação nestes e em outros setores. Estamos presentes para apoiar as empresas e instituições que queiram embarcar nesta jornada.
4. Como deve ocorrer a integração vertical entre negócios e manufatura, na visão da empresa?
A integração vertical diz respeito à criação de uma rede de sistemas de produção flexíveis e facilmente reconfiguráveis nas fábricas, que possam se adaptar em tempo real às variações de demanda, de especificações de produto, de disponibilidade de recursos e de materiais ou a qualquer outra mudança imprevista no ambiente de produção, para seguir atendendo a demanda dentro dos parâmetros de prazo, qualidade e custo ótimos, definidos pelos sistemas de negócio da empresa. Para isso, tanto os sistemas de manufatura quanto os de negócios precisam se tornar mais ágeis e flexíveis, trocando informações de forma transparente, bidirecional e em tempo real. A modularidade permite que a indústria seja flexível, de forma que é capaz de se adaptar às mudanças necessárias e lidar com as customizações em cima da hora.
5. Como a Dassault Systèmes se posiciona dentro da perspectiva da indústria 4.0? Que tipo de serviços e apoio vai oferecer?
A Dassault Systèmes tem participado ativamente de iniciativas como a Indústria 4.0 e Indústria do Futuro, apoiando nossos clientes em 12 setores industriais distintos e em mais de 140 países. Com isso, temos acumulado uma vasta experiência que vai muito além do fornecimento de nossa plataforma 3DEXPIERENCE para suportar os processos de negócio de nossos clientes. Temos também o conhecimento de mercado para auxiliar as empresas na definição da melhor estratégia para lidar com os desafios e oportunidades que se apresentam. Um ecossistema de recursos próprios e de parceiros para prover serviços e treinamentos necessários à implementação e sustentação das soluções. Ainda trabalhamos em forte aliança com o setor acadêmico para promover a capacitação das novas gerações de profissionais que suprirão o mercado com as competências e o conhecimento necessário para tornar realidade as promessas desta nova Revolução Industrial.
6. Existe receio de que a tecnologia possa gerar desemprego. Como a Dassault Systèmes avalia o papel das pessoas nesse processo de transformação digital das manufaturas?
Toda mudança de tecnologia gera este receio de desemprego, mas o que acreditamos é que os empregos e as oportunidades na verdade migram de um lugar para outro. O evento da indústria automobilística gerou um grande desemprego no setor de fabricação de carruagens, mas quem soube se adaptar e aprender a nova tecnologia conseguiu melhores empregos na nova indústria que estava surgindo. A Dassault Systèmes acredita que as pessoas terão um papel fundamental neste novo ambiente industrial, como planejadores, supervisores e tomadores de decisão ágeis e criativos, tratando das exceções e não conformidades que os sistemas automáticos e as máquinas inteligentes não forem capazes de tratar de forma autônoma. Isso vai exigir outro perfil de trabalhador, apto a resolver problemas com base em informações, e preparado para trabalhar com novas ferramentas, como dashboards e softwares para análise de dados operacionais. Como na transição das carruagens para os automóveis, quem se adaptar mais rápido às exigências deste novo cenário não sofrerá com o desemprego, mas terá na verdade ótimas oportunidades de evolução profissional. A mudança de perfil não será fácil, nem todos conseguirão fazê-la, e ela tem que começar agora.
7. Quais são os planos da Dassault Systèmes para o mercado brasileiro?
A Dassault Systèmes continua acreditando no mercado brasileiro, como sempre fez desde que se instalou no país. Acreditamos que o tamanho de nosso mercado, a diversidade de nossa indústria, a abundância de nossos recursos e a criatividade do povo brasileiro são fatores que apontam para um futuro bastante promissor. Sabemos das dificuldades que o país está enfrentando no momento, mas acreditamos que a sociedade brasileira sairá desta crise fortalecida. Por tudo isso, a Dassault Systèmes tem investido no Brasil ao longo dos últimos anos, aumentando a equipe, melhorando as instalações e infraestrutura, capacitando os profissionais e parceiros e, cada vez mais, trabalhando com nossos clientes para implantar, hoje, os conceitos da revolução e futuro na indústria, demonstrando na prática que estamos preparados para continuar suportando nossos clientes em sua jornada rumo ao futuro.