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*Por Jamile Sabatini Marques

O modelo de Cidade 4.0 redefine o urbanismo tradicional, ressaltando o papel primordial da tecnologia e da análise de dados na transformação das infraestruturas urbanas

São adotados os fundamentos da inovação urbana na visão econômica da Cidade 4.0, pois enfatizam um urbanismo baseado em plataformas coletivas e no conhecimento. Essa abordagem oportuniza um futuro das cidades que seja mais sustentável do ponto de vista econômico, além de resiliente e inclusivo. O conceito de urbanismo de plataforma coletiva, um pilar crucial da Cidade 4.0, busca transformar a maneira como as cidades planejam seu crescimento e desenvolvimento. O foco principal desta estratégia é a criação de um ambiente propício à inovação, que promova a colaboração entre variados participantes – incluindo órgãos governamentais, setor privado, instituições acadêmicas e os próprios cidadãos. Esta interação entre diferentes perspectivas e expertises é vital para desenvolver soluções efetivas para os desafios urbanos complexos dos tempos atuais.

O modelo de Cidade 4.0 redefine o urbanismo tradicional, ressaltando o papel primordial da tecnologia e da análise de dados na transformação das infraestruturas urbanas. Esta abordagem se volta para a coleta e interpretação de dados em tempo real para aprimorar sistemas urbanos como o transporte e a gestão de energia, além de enfatizar o desenvolvimento de recursos humanos, o marketing inovador e a implantação de tecnologias avançadas. Complementarmente, o urbanismo que se baseia em plataformas coletivas e conhecimento sublinha a importância do saber compartilhado na resolução de problemas urbanos intrincados e multifacetados. Embora ambas as metodologias reconheçam a relevância central dos dados, a Cidade 4.0 foca na otimização e eficiência, em contraste, o urbanismo de plataforma coletiva vê os dados como um bem comum, essencial para democratizar e fomentar a inovação.

Não há dúvida sobre a representatividade do empreendedorismo e da inovação no avanço econômico fundamentado no conhecimento. As cidades que buscam fomentar essa interação e o crescimento econômico devem atuar em parceria com universidades que cultivem uma mão de obra qualificada e com espírito empreendedor, juntamente com incubadoras, aceleradoras, parques tecnológicos e fundos de investimento, além do fomento à inovação por meio de agências de desenvolvimento. É imprescindível que a legislação e as políticas públicas sejam estruturadas de modo a apoiar o desenvolvimento de novas empresas, incluindo regulação de forma a beneficiar a competitividade nacional.

Dentro da visão da Cidade 4.0, estabelecer um ecossistema inovador robusto, demanda uma estratégia abrangente que alinhe os três pilares de sustentabilidade definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU): crescimento econômico, avanço social e preservação ambiental. Este ecossistema deverá funcionar a partir de quatro esferas centrais: sociocultural, física, institucional e econômica. Embora cada esfera tenha seus próprios fundamentos, ao focar nos elementos que destacam a esfera econômica, como conhecimento, criatividade, incentivo à inovação e competitividade, percebe-se a capacidade das cidades de promover um desenvolvimento econômico sustentável e baseado no conhecimento. Um aspecto crítico desta abordagem é a valorização de dados abertos. Com a facilitação do acesso a esses dados para uma variedade de interessados, estimula-se a criação de novas aplicações e serviços destinados a enriquecer a vida urbana. Essas inovações podem ser aplicadas em diversos setores da economia e é necessário que o governo abra os dados de forma limpa para que empreendedores criem opções de novos serviços ao cidadão.

A gestão eficaz de dados é fundamental no ecossistema da Cidade 4.0, atuando como um catalisador para a inovação. Estes dados, tratados como recursos comuns, detêm um grande potencial de impacto na sociedade, oferecendo a possibilidade de reestruturar as cidades de maneira mais eficiente e equitativa. Tais recursos comuns englobam também elementos naturais e culturais, indispensáveis para um desenvolvimento sustentável.

Um exemplo da falta do uso de dados para a melhora e inteligência dos serviços públicos, na cidade de Florianópolis/SC, reconhecida como uma cidade inteligente, é a realização do exame médico para obtenção da carteira de motorista, que atualmente se baseia em um sistema de sorteio. Trata-se de uma abordagem que tem se mostrado pouco eficiente e não considera a qualidade de vida dos cidadãos. A prática em uso obriga muitos a se deslocarem grandes distâncias pela cidade, o que resulta em considerável perda de tempo. Essa perspectiva de gestão necessita de aprimoramentos, especialmente quando há ferramentas disponíveis que poderiam otimizar tais serviços, com foco no bem-estar do cidadão. No caso em questão, a prioridade parece ter sido dada aos centros médicos cadastrados, em vez de se concentrar nas necessidades e conveniência dos cidadãos que precisam do serviço.

*Jamile Sabatini Marques é diretora de Inovação e Fomento e diretora do Think Tank – Centro de Inteligência de Inovação, Políticas Públicas e Inovação da Associação Brasileira das Empresas de Software – ABES e já atuou em alguns programas de fomento à inovação. É pós-doutora em Desenvolvimento Baseado no Conhecimento pela UFSC e pelo Instituto de Estudos Avançados da USP. É Doutora em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela Universidade Federal de Santa Catarina, onde defendeu a sua tese sobre a importância de se fomentar a Inovação para gerar desenvolvimento econômico baseado no Conhecimento.

Aviso: A opinião apresentada neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software

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Originalmente a publicação ocorreu na Plataforma Connected Smart Cities

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