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*Por Jean-Claude Saghbini

A pandemia da COVID-19 provocou um severo impacto, expondo as mais diversas vulnerabilidades na prestação de serviços de saúde em todo o mundo. Porém, é inegável que esse cenário totalmente desconhecido, por outro lado, também tenha nos obrigando a descobrir formas diferentes de pensar sobre saúde.

Tivemos que reavaliar como entregar a melhor evidência para os profissionais de saúde, guiá-los no processo de tomada de decisão, além de pensar em diferentes formas de treinar centenas de pessoas que, embora já atuassem na área, de um dia para outro, precisaram assumir novas funções.

Ou seja, foi preciso enxergar essa situação como uma oportunidade, sem precedentes, de transformar o que não deu certo.  De redesenhar e de criar um novo futuro para a saúde.

A inovação e o aprendizado contínuo foram mais do que mandatórios, dando espaço para que novas forças fossem catalisadas e servissem de mola propulsora para tendências que serão vitais no mundo pós-pandemia. Cada uma delas, isoladamente, têm um papel importante. Coletivamente, no entanto, são capazes de desencadear uma transformação em todo o sistema de saúde.

Mas, quais são essas cinco forças que podem ajudar a redesenhar e melhorar o futuro da saúde?

#1 A telemedicina combatendo as vulnerabilidades

A pandemia acelerou drasticamente a expansão e adoção da telemedicina. Diante da necessidade em fazer o melhor para garantir a segurança dos pacientes, as instituições de saúde adotaram modelos que ultrapassaram as barreiras físicas.

Para os líderes do setor, essa alternativa trouxe, por exemplo, impactos positivos no atendimento especificamente a pacientes crônicos de grupos de risco, o que corresponde a uma grande fatia. 80% dos adultos em idades avançadas têm alguma doença crônica e 77% tem ao menos duas delas.

No Brasil, temos números significativos no que diz respeito ao uso da telemedicina e da assistência virtual para atender não somente aos mais vulneráveis, mas a todos: 90% dos médicos acreditam que as novas tecnologias digitais terão um grande impacto para a assistência de saúde da população. Estima-se que por conta desse avanço, o mercado de telessaúde deva elevar-se a um patamar de $7 a $8 bilhões até o ano de 2024.

#2 Transparência e confiabilidade na melhor evidência disponível no momento

Os médicos muitas vezes precisam de recomendações e orientações a respeito de tratamentos confiáveis, que ainda não existem na literatura revisada por pares, por exemplo. Isso foi bastante evidente durante a pandemia COVID-19.

Até meados de setembro, foram mais de 140 mil publicações científicas e ensaios relacionados à COVID-19. É praticamente impossível para qualquer pessoa assimilar toda essa quantidade de informações, então, como poderíamos reorganizar esses dados de forma eficiente?

Novas ferramentas e processos foram responsáveis por acelerar a forma como os médicos tiveram acesso às informações sobre essa nova doença, orientando-os nas melhores decisões e eliminado as lacunas entre o que os médicos viam e o que as pesquisas emergentes mostravam.

Falando somente do nosso caso, fizemos mais de 500 alterações até julho nos conteúdos que disponibilizamos, inclusive alguns deles gratuitamente. A quantidade de profissionais que acessaram nosso material no mundo inteiro – foram mais de 18 milhões de visualizações até meados de janeiro de 2021 -, mostrou a relevância e criticidade desse conteúdo para quem está na linha de frente.

Uma abordagem baseada na melhor evidência disponível naquele momento ajuda a refinar as pesquisas recentes e derrubar a grande quantidade de literaturas inconsistentes, permitindo não só tomar decisões alinhadas às melhores práticas, como também antever ameaças que possam abalar a saúde pública.

#3 A Inteligência Artificial potencializa a velocidade de vigilância clínica

Os sistemas de vigilância clínica são historicamente conhecidos por trazerem atualizações sobre os pacientes e alertas clínicos oportunos e relevantes, em tempo real. E a inteligência artificial (IA) tem sido uma excelente aliada desses sistemas.

Juntos, permitem identificar uma grande gama de condições de saúde agudas e crônicas com mais precisão. Com isso, médicos conseguem identificar pacientes em risco, trazendo impactos bastante positivos, tanto do ponto de vista de resultados clínicos como de custo para as instituições.

#4 Preparando-se para uma transformação da força de trabalho na área da saúde

A pandemia também mudou o cenário no que diz respeito a força de trabalho na área da saúde. As organizações tiveram que contratar médicos que acabaram de se formar e também, por outro lado, reabsorver profissionais recém-aposentados ou que já estavam afastados do dia a dia. Além é claro, de realocar e treinar outros profissionais de saúde, além de médicos e enfermeiras, na linha de frente. E, mais do que isso, prepará-los para uma mudança radical na forma como os cuidados eram prestados.

As estratégias futuras envolvendo os profissionais que trabalham na área de saúde terão que acompanhar o novo ritmo. O desafio será arquitetar novos modelos que ajudem não só a retê-los, como desenvolver sua carreira e restaurar o autocuidado. Sem falar das novas habilidades, que são cada vez mais importantes para viabilizar as diferentes formas de promover o cuidado e definir novos modelos de atendimento.

#5 Acesso completo à dados consistentes

A saída para todos os desafios está em integrar e em prover o acesso à informação certa, completa e consistente. 86% das pessoas que fazem parte de alguma forma da cadeia de saúde afirma que dados incorretos ou de má-qualidade afetam a segurança do paciente e são fontes de aumento de custos.

A COVID-19 demonstrou que não existem apenas conexões tênues entre saúde pública e definições médicas, mas também, que há formas de rapidamente estabelecer essas ligações.  Na verdade, todas as mudanças que vêm acontecendo há quase duas décadas poderiam ser rastreadas se olhássemos para dados históricos. Porém, como muitos dados encontram-se descentralizados, não estruturados, são inconsistentes ou são de propriedade do paciente ou da instituição, essa acaba não sendo uma tarefa fácil.

O acesso mais amplo às informações facilita as interações em todo o ecossistema de saúde. Com isso, podemos melhorar drasticamente a coordenação do atendimento e nos aproximar de um modelo de atendimento verdadeiramente centrado no paciente.

*Jean-Claude Saghbini, Vice-Presidente Sênior e CTO da Wolters Kluwer Health

Aviso: A opinião apresentada neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software

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