* Por Rodney Repullo
Os últimos anos trouxeram uma imensa gama de desafios para a indústria de manufatura, tornando-a mais forte por causa da sua capacidade de superação aos obstáculos. Em 2022, um ano em que a escassez na cadeia de suprimentos em larga escala e o medo de uma recessão chegaram às manchetes em todo o mundo, a indústria de manufatura dos EUA contratou mais trabalhadores do que em qualquer ano desde 1994. A tecnologia ajudou a alimentar esse crescimento.
Aqui no Brasil, a indústria registrou um saldo positivo de 251.868 empregos. O resultado é a diferença entre o número de contratações e o de desligamentos entre janeiro e dezembro, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). A expectativa para 2023 é que a indústria manufatureira em geral – principalmente os de pequeno e médio porte – enfrente desafios novos e antigos. As empresas do setor capazes de incorporar tecnologias 4.0 em suas plantas, serão mais ágeis e sairão por cima no final.
Mas, para garantir os melhores resultados e aumentar a sua resiliência, podemos listar aqui cinco coisas que as indústrias devem buscar em 2023:
1 – Mais processos digitalizados e avançar para a Indústria 4.0
Apesar dos ventos econômicos contrários, muitas indústrias em setores chaves da economia estão melhor preparadas para manter o ímpeto e continuar crescendo em 2023. Na verdade, à medida que elas buscam refinar as cadeias de suprimentos para evitar interrupções, o reshoring (retomada dos processos industriais em carater nacional) continuará sendo mantido no topo das prioridades. As empresas que estão mudando suas operações para os países mais desenvolvidos procuraram maneiras inovadoras de repensar como trabalham e ajustam a sua operação para uma nova realidade e não poderão simplesmente copiar práticas de companhias de outros países. Em vez disso, devem procurar melhores maneiras de digitalizar as suas operações com tecnologias 4.0 para reduzir custos e melhorar a eficiência.
Durante anos, as pequenas e médias empresas do setor foram excluídas das soluções da Indústria 4.0. Agora, as marés estão mudando à medida que os preços caem. Em 2023, veremos fábricas antigas transformadas em empresas inteligentes, e novas operações começarão a funcionar com tecnologia avançada.
2 – A segurança cibernética da defesa ao design
Em 2021, 55% das empresas de manufatura e produção sofreram ataques de ransomware, um aumento de 36% em 12 meses. Infelizmente, os ataques de segurança cibernética continuarão a aumentar. No passado, a segurança cibernética era frequentemente considerada uma medida defensiva aplicada aos sistemas existentes. Além disso, as empresas adotaram uma abordagem fragmentada, resultando em diferentes protocolos e padrões para TI e OT (Tecnologia Operacional).
Isso não funciona mais e é necessário incorporar a segurança cibernética no design de sistemas em todos os níveis para se protegerem de ataques e cumprir as crescentes regulamentações governamentais sobre segurança cibernética.
No entanto, a maioria das indústrias menores não possui especialistas internos em segurança cibernética e, portanto, à medida que movimentam os dados da produção para a nuvem, eles devem firmar parceria com empresas que entendam de segurança na nuvem. Além disso, devem investir na implementação de sistemas de gestão e de chão de fábrica mais modernos, com capacidade de proteger os dados contra acessos não autorizados ou criminosos. É mandatório garantir um acesso baseado em funções , quando os usuários podem acessar apenas os dados para os quais têm permissão, limitando o risco de vazamento de dados por meio de ataques de phishing.
3 – Aprender a superar o inesperado
Da pandemia à guerra na Ucrânia, a volatilidade da cadeia de suprimentos tem sido uma marca registrada dos últimos anos. Muitas indústrias – assim como todo o mundo – foram pegas de surpresa e tiveram que lutar para enfrentar a situação de crise estabelecida. Embora não seja possível mudar o passado ou prever o futuro exatamente como ele será, é possível se preparar para situações críticas vindouras criando e impulsionando a agilidade em suas operações. Então, quando o inesperado ocorrer, a empresa estará menos vulnerável e poderá se ajustar melhor à situação.
No entanto, essa agilidade não vem facilmente. Adaptar-se a um ambiente de negócios em constante mudança exige que as empresas encontrem ferramentas flexíveis. Buscar por soluções da Indústria 4.0 que encontrem um equilíbrio entre serem fáceis de configurar com opções pré-configuradas e também personalizáveis para que você possa fazer alterações no futuro.
4 – Dobrar a aposta na transformação digital para não ficar para trás
Várias pesquisas que monitoram o setor revelam que as indústrias planejam investir pesadamente em tecnologia. A Forrester relata que os gastos com tecnologia deverão ultrapassar US$ 4,8 trilhões em 2023 – . E não são apenas as grandes empresas que estão investindo em tecnologia. A HFS Research relata que 88% das indústrias nos EUA aumentaram seus orçamentos de tecnologia em 2022 . No Brasil, a Pesquisa IBM aponta que 78% dos líderes empresariais brasileiros projetam investimento em tecnologias, com ênfase em soluções de IA, automação e nuvem híbrida. À medida que a transformação digital continua a se tornar mais acessível por meio de custos mais baixos e estratégias de implementação inovadoras, a manufatura inteligente passará de tecnologia de ponta a requisito para ser competitiva.
No entanto, só porque as indústrias de todos os portes estão investindo em tecnologia não significa que devam fazê-lo da mesma forma. Para as pequenas e médias empresas do setor, é fundamental ver o ROI (retorno do investimento) o mais rápido possível. Isso requer duas coisas: um plano estratégico de implementação e a maximização dos sistemas legados, o que demanda a integração entre os sistemas de gestão e do chão de fábrica.
A adoção de sistemas capazes de cobrir todas as fases dos processos de produção e de negócios é fundamental, além de permitir adotar estratégias que dividem sua jornada para a fabricação inteligente em sprints curtos, a maioria abaixo de 60 a 90 dias. Isso permite que os fabricantes financiem suas iniciativas da indústria 4.0 com o ROI de cada sprint. Dessa maneira, as empresas de médio porte colhem os benefícios da transformação digital sem precisar contrair dívidas enormes e podem ver uma prova de conceito sem interromper os processos da noite para o dia.
Parte do que faz essa estratégia funcionar é aproveitar as máquinas existentes. Embora os grandes fabricantes possam comprar todas as novas máquinas para atingir suas metas de fabricação inteligente, a maioria das indústrias menores não pode pagar por isso. Felizmente, eles não precisam, porque podem atualizar muitas máquinas legadas com dispositivos IIoT (Internet das Coisas Indústrial) acessíveis e transformar essas máquinas em fontes de dados valiosas.
5 – Acelerar a gestão de dados com IA
Durante décadas, os analistas anunciaram a Inteligência Artificial (IA) como “a próxima grande novidade”, mas ela sempre esteve um pouco fora de alcance. 2023 é o ano em que a IA atinge a maioridade para muitas empresas, principalmente naquelas que estão investindo na manufatura inteligente e transformando dados em insights mais rápido do que nunca e se beneficiarão do aprendizado de máquina alimentado por IA para acelerar a melhoria contínua.
À medida que a IA amadurece, ela se torna mais valiosa, portanto, não é de admirar que o mercado de software de IA esteja projetado para crescer 50% mais rápido do que o mercado geral de software ou que os gastos com software de IA dupliquem de 2021 a 2025, atingindo US$ 64 bilhões. Os dados são o combustível que alimenta a IA, e são necessários muitos deles. Se as pequenas e médias indústrias quiserem aproveitar as oportunidades que a IA apresenta, elas precisam coletar mais dados e mais precisos. Para isso, devem recorrer a soluções baseadas em nuvem, mas que possam se aliar ao poder dos data lakes.
Os data lakes, que estão no centro das soluções de ponta, podem ingerir dados em todos os formatos enquanto preservam os dados originais – algo que os data warehouses e outras alternativas não podem.
Se falar de IA e data lakes parece complicado, é porque é – pelo menos em parte. A tecnologia que impulsiona a fabricação inteligente deve ser altamente avançada, mas a complexidade permanece nos bastidores para que parceiros externos gerenciem.
Como resultado, eles têm uma tecnologia mais sofisticada do que nunca, ao mesmo tempo em que se preocupam menos com a TI.
* Rodney Repullo, CEO da Magic Software Brasil
Aviso: A opinião apresentada neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software