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*Por Rafael Cichini

Nos últimos anos, o mercado se acostumou com a abundância na área de tecnologia. Passamos por momentos nos quais empresas do setor, startups e áreas de tecnologia de médias e grandes companhias expandiram suas estruturas, em um fluxo que parecia não ter fim, com muitas contratações de desenvolvedores, por exemplo. No entanto, como tudo na vida, mudanças ocorrem. Tudo mudou, e rapidamente. Da mesma forma em que a pandemia acelerou esse movimento de contratação, como apertar o botão de acelerar o áudio do WhatsApp, temos o princípio de uma desaceleração para acompanhar os movimentos da economia.

 As incertezas políticas e econômicas globais e do Brasil, além da conta deixada pela pandemia, somados a um cenário de guerra, mudou o ambiente quer tínhamos. Os fundos de investimento começaram a buscar apenas negócios sustentáveis em vez de realizar inúmeras apostas muito arriscadas. Como o crédito no mercado em geral para financiamentos ficou caro, investidores passaram a preferir negócios de baixo risco que são boas alternativas ainda mais em momentos de juros altos.

Todo esse panorama fez a lógica, que antes visava crescimento, trazer novamente o foco central para a lucratividade. Parece estranho falar assim, mas é o que de fato aconteceu. Empresas apertaram o freio no aumento de tamanho para voltar a atenção para a performance e rentabilidade. Com isso, muitas ações passaram a ser necessárias e, uma delas, envolve os tão falados layoffs.

Os layoffs são ações de redução de equipe, com colaboradores demitidos para reduzir custos ou reorganizar a estrutura da companhia. Nas organizações de tecnologia, os layoffs são geralmente justificados como necessários para melhorar o foco e a eficiência do negócio. Embora possam ter um impacto devastador para os funcionários afetados, as empresas geralmente se beneficiam com a redução de custos e a possibilidade de concentrar recursos em projetos que geram mais retorno financeiro.

Por isso temos acompanhado as grandes empresas de tecnologia reduzindo seus tamanhos, demitindo ou congelando vagas. Esse cenário tem sido bastante comum, mas, apesar de parecer totalmente negativo, tem um lado importante para as organizações. Em muitos casos, significa a sobrevivência imediata ou o ajuste da estratégia para o crescimento a longo prazo.

Essas reestruturações levam importantes lições para as companhias, inclusive mostrando a necessidade de ter mais critérios para as iniciativas de inovação e tecnologia a focar, passando a ter dois condutores claros: aumento de receita ou redução de custos para preservar as margens.

 A maior parte dos cortes estão relacionados a projetos de longo prazo, iniciativas ainda com incerteza sobre os resultados que podem ser gerados. Também ocorrem em áreas adjacentes, não relacionadas à atividade principal da empresa. Nos anos de abundância, as organizações passaram a contratar times de tecnologia internamente. Muito ouvimos sobre como elas haviam virado empresas ‘de tecnologia’. Agora, muitas já anunciam mudança em suas estratégias para focar em seu core business. Com isso, deixam de ser ‘empresas de tecnologia’ para voltar a atenção para seus negócios.

Essa mudança do mercado traz a necessidade de tornar os times escaláveis e de adotar tecnologias que possibilitam acompanhar o fluxo dos negócios como ambientes Cloud e soluções SaaS (Software como Serviço) que podem ser pagas conforme o volume de uso. A próxima tendência deve ser o ajuste interno para modelo Squads as a Service, ou seja, que aumenta e diminui os times técnicos e os projetos conforme as iniciativas de desenvolvimento.

Vale dizer que esse formato não é necessariamente algo novo. No passado, esse conceito funcionou durante muito tempo, mas em um modelo no qual as consultorias de tecnologia basicamente entregavam pessoas, sem aportar conhecimento. Atuavam como fornecedores de baixo valor agregado, em vez de serem verdadeiramente parceiros para os negócios.

Agora, as organizações demandam apoio e compromisso com as entregas, além de engajamento dos fornecedores com seus objetivos de negócio. Além disso, precisam reter o conhecimento para conseguir gerar valor e promover a transformação digital. Portanto, é fundamental ter um parceiro capaz de apoiar no crescimento dos negócios e no escalonamento de times de tecnologia, sem perder as competências e a cultura tecnológica. É preciso reter o conhecimento e ser enxuto na medida certa.

Resumindo, as cinco premissas para o sucesso são:

1 – Ser ágil de verdade. Lembrar que a agilidade está relacionada a foco, priorização, entregar de maior valor com menos esforço, muita colaboração e visibilidade;

2 – Ter parceiros verdadeiramente digitais, capazes de ajudar efetivamente a empresa a crescer e diminuir suas squads de acordo com a demanda. Além disso, devem ser aptos a reter o conhecimento durante este processo;

3 – Olhar para dados de maneira estratégica e sempre na busca de insight para tomadas de decisões, inclusive para apoiar na priorização do que deve ou não ser feito;

4 – Usar automação e Inteligência Artificial para reduzir custos em iniciativas repetitivas e puramente operacionais, direcionando as pessoas para atividades cada vez mais estratégicas;

5 – Conectar toda e qualquer iniciativa em sua cadeia de valor até a ponta, ou seja, garantir a mensuração de todas as atividades de tecnologia para compreender se estão contribuindo para o aumento de receita, redução de custo ou maior eficiência operacional.

Mudanças, com layoffs ocorrendo diariamente, trazem desafios, mas a adaptação para novos cenários precisa ser rápida para ajudar as empresas a conquistarem um outro patamar no mercado. Estamos em um bom momento para reavaliar realinhar estratégias, analisar reais necessidades e promover a inovação com a adoção de novas tecnologias com Inteligência Artificial. Novos hábitos, aprendizados e reinvenção são pontos que os layoffs nos ajudarão a adotar. Profissionais de tecnologia sempre terão espaço para atuar, sendo cliente ou parceiro, em squads, pois não há dúvidas de que o Brasil é uma nação com inúmeras oportunidades de digitalização. Iniciativas não faltarão para profissionais e empresas de tecnologia, mas agora, é o momento de encontrar o equilíbrio para todo o ecossistema e definir o caminho que nos levará para a evolução.

*Rafael Cichini, Chief Marketing Officer (CMO) e Business Director da SQUADRA

Aviso: A opinião apresentada neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software

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