Tudo conspira para que o homem de software e o cidadão usuário atuem ainda mais na ideia de engajamento de uma forma ou de outra. Também deverá crescer a substituição do código a frio pela experiência a quente
Uma confluência de diversas ondas comportamentais e tecnológicas está modificando radicalmente a maneira com que as pessoas se relacionam, mas esta é uma realidade de conhecimento já banal, que não será o objeto central deste artigo.
O que me interessa, no momento, é apenas observar, num relance, de que maneira esses interfluxos já estão modificando o papel do técnico de TI (seja ele o CIO, ou analista, o desenvolvedor de aplicações). E de que modo estão trazendo para mais perto deste profissional o "cidadão" comum, ou seja, o usuário, até pouco tempo similar ao "consumidor" de TI.
Em complemento, não me parece gratuito especular sobre os rumos que irão tomar as aplicações de negócios: que novas tarefas elas tendem a abarcar e de que maneira irá acontecer seu ciclo de vida no contexto do novo ambiente dinâmico de negócios e – novamente – onde se enquadram aí o técnico e o usuário.
A primeira coisa a enfatizar é que os aplicativos já não residem num hardware dedicado, mas se confundem com os objetos, se espalham pelo ambiente e estão presentes (não raro, despercebidos) em quase todas as atividades do negócio.
Coerentemente a isto, um poder de processamento inimaginável há alguns anos está agora sempre ao alcance do usuário através dos mais diversos meios. Meios estes que contém não só um número impressionante de ferramentas para a execução de tarefas, mas também para a criação, edição, integração e combinação de códigos que se transformam em ferramentas até então não residentes naquele referido meio.
Dado, portanto, este "empoderamento" do usuário e esta ubiquidade louca das aplicações de negócio, que conclusões podemos tirar sobre o futuro próximo dentro do tema aqui proposto?
A Progress, como outros players, está permanentemente engajada nessa discussão e, sob o comando do seu Diretor de Tecnologia de Produtos, John Goodson, levantou cinco tendências para a TI para os próximos dois anos.
1. Surgem os desenvolvedores-cidadãos e a TI precisa responder a isto
A TI já não consegue acompanhar sozinha o dinamismo das demandas de interação e correlação de negócio descritas acima. Não por culpa sua. Os negócios estão demandando mais e mais interações; e a desenfreada consumerização da TI elevou as expectativas dos usuários a patamares muito altos.
A tendência mais recente de abordar essa questão está em identificar uma nova classe de "desenvolvedores-cidadãos". Trata-se de uma nova geração, que segue a palavra de ordem BYOA (Bring Your Own Application). São usuários empresariais tecnicamente aptos, que entendem o negócio e que têm experiência técnica básica suficiente para construir apps ou participar efetivamente do processo de desenvolvimento.
Há muito que já começou o diálogo entre o TI e o Negócio. Mas, nesse novo cenário, cabe ao homem de TI responder com presteza a essa tendência, ajudando os líderes de negócio mais capacitados a exercer sua autonomia e criatividade.
E é condição de eficiência para o desenvolvedor profissional identificar com rapidez estas aplicações voláteis – criadas em parte pelo usuário expert – e ser capaz de entender o seu real valor para o negócio. Assim, poderão refinar as referidas apps e compartilhá-las com a cadeia de valor, agora de forma mais disciplinada.
2. É preciso pensar desde já numa ponte para a Internet das coisas
Não podemos mais encarar o mundo exclusivamente pela ótica imediatista de ROI. O modelo da Internet das coisas exige, desde já, uma ponte que seja projetada (ao menos como previsão), já que o fenômeno IoT é algo inexorável e sua expansão de forma eficiente requer prontidão por parte dos planejadores de TI .
Nos últimos as empresas já estão dando passos importantes para que possam assimilar o processamento da IoT como premissa de suas aplicações, especialmente aquelas aplicações com as quais o cliente lida diretamente. É muito provável que, daqui para frente, haja um uso muito maior de linguagens próprias para a IoT, como é o caso do Node.js.
3. Está próximo o fim do velho impasse dos silos de dados, agora com o apoio de tecnologias como Low-code e Agile.
As empresas estão empenhadas em alavancar os conceitos de Enterprise Architecture para melhor orquestrar o chamado concerto das aplicações e unificar os esforços de desenvolvimento. Mas sempre haverá os diferentes silos se impondo como obstáculo.
Mesmo no mundo de hoje, baseado na nuvem, as organizações ainda continuarão por muito tempo às voltas com a abordagem de alguma plataforma específica.
Sem se deter diante do obstáculo, as organizações líderes serão aquelas que reagirão à diversidade de aplicações e usarão todo o seu conjunto de competências para combinar abordagens de desenvolvimento que incluem tanto o low-code (alta produtividade com baixa demanda de código) quanto o agile (alta taxa de controle aliada à rapidez). Isso permitirá que diferentes conjuntos de habilidades sejam aplicados de maneira eficaz e colaborativa sem as restrições da abordagem de uma dada plataforma.
4. O avanço do Node.js vai corroborar a adoção do JavaScript.
O rápido crescimento do JavaScript continuará e será corroborado pelo probabilíssimo sucesso do Node.js do lado do servidor, juntamente com as poderosas virtudes do MongoDB.
Outro movimento estimulante será a adoção de soluções PaaS que possam permitir aos desenvolvedores do Node.js concentrarem-se no desenvolvimento de aplicações, ao invés de se preocuparem com a instalação, o escalonamento, a gestão e o monitoramento de aplicativos Node.js e MongoDB.
Isto se equiparará à ascensão dos DevOps, uma vez que tal movimento significa automatizar processos-chave e possibilitar que pequenos projetos de desenvolvimento decolem, ao mesmo tempo fornecendo a infraestrutura para grandes aplicações de missão crítica. Um dos maiores indicadores dessa tendência será o lançamento do Node.js 1.0.
5. As empresas começarão a beber nos "Lagos de Dados" – ou "Data Ponds".
Os problemas com fontes disparatadas de dados já deveriam estar resolvidos há muito tempo. O ano de 2015, com certeza, concluirá com um passo importante nesse sentido, trazendo a próxima da evolução da utilização de dados não estruturados.
À medida que um número cada vez maior de fluxos de dados alimenta os chamados os "lagos de dados", maior será o interesse e se construir aplicações para transformá-los, passando de problemas a insights de negócio.
Isso não apenas aumentará o valor daqueles dados, mas também estimulará as empresas a assegurarem que seus dados empresariais críticos sejam integrados e estejam fluindo de maneira coerente como o objetivo do negócio.
Desnecessário, neste ponto, enfatizar o papel crucial que o profissional de TI irá jogar na deflagração, e execução desses processos, incluindo-se aí o engajamento indispensável do "cidadão" no movimento de mudança.
6. A Supervia das Transações – Os consumidores com mais recurso tecnológico começarão a viajar nas pistas de acesso mais rápido
Os consumidores com mais conhecimento e recurso tecnológico dirão adeus às longas filas em market places de produtos e serviços. A proliferação de pedidos online e a busca nas lojas de todos os tipos continuarão, mas a tendência por formas mais automáticas de aquisição se disseminará ainda mais à medida que a experiência dos usuários se tornar mais fluida e confiante.
Os varejistas também começarão a explorar melhor os pontos de intersecção da Internet das Coisas e a aplicar de forma até banalizada a mineração analítica para possibilitar a "venda preditiva".
Por exemplo: o domicílio conectado, se bem configurado, possibilitará a certos varejistas oferecer aos consumidores, com facilidade ainda maior, produtos que eles talvez não tenham percebido que já estão precisando. A reposição do leite em pó, a troca do filtro de água, por exemplo. Uma combinação de alerta no telefone dos consumidores com a oferta de entrega a domicílio permite que a única ação necessária do consumidor seja simplesmente confirmar o alerta e pressionar o ícone "comprar".
O que se apreende desse cenário é que o desenvolvedor de aplicações precisará ser um técnico cada vez mais obsecado por conhecer e descrever a experiência do usuário, entendendo-o, agora não mais como um consumidor passivo.
É junto ao usuário – seus hábitos, seu potencial técnico, seus conhecimentos de negócio – que se encontra o campo de observação onde o desenvolvedor irá buscar a motivação e a finalidade inventiva de seu trabalho.
De modo que, engajamento e participação são duas expressões essenciais. Já foi o tempo em que o profissional de TI criava linhas de código, o que ele cria agora é realmente, experiência.