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*Por Hermano Pinto

Segurança cibernética, segurança pública, privacidade de dados e até segurança pessoal. O que cada uma tem a ver com a outra? Diante de tantas ameaças que dificultam nossa rotina no ambiente digital, é complexo identificarmos qual o limite há entre os conceitos de segurança. Os métodos de invasão ou de fraudes são aperfeiçoados constantemente e, por isso, várias cidades brasileiras já aproveitaram um excelente recurso tecnológico para oferecer mais segurança à população. Passaram a recorrer ao que foi estabelecido como “muralha digital”.

Trata-se de um sistema que reúne aparatos – software e hardware – para coleta de dados tendo as câmeras de monitoramento como principal instrumento de conexão aos trabalhadores de um centro de gestão. Aos cidadãos, são disponibilizadas soluções inovadoras como aliadas da segurança pública, e que permitem intervenção em tempo real e mais rápida na prevenção e combate à criminalidade. Outra aplicação da muralha é o registro, por exemplo, de data, hora, placas e dados de geolocalização de veículos – informações muito úteis nas investigações ou observação do trânsito. Esses são somente alguns dos exemplos que começamos a discutir há alguns anos quando surgiram as primeiras ideias sobre cidades inteligentes.

A Inteligência Artificial e a Internet das Coisas vêm melhorando as aplicações nos sistemas de monitoramento. Por exemplo, as predições resultantes da coleta de algoritmos e a comunicação entre dispositivos aperfeiçoam a muralha digital, que pode tornar a segurança da cidade mais eficiente com serviços que se estendem além da criminalidade. Entre eles, o controle de fluxo de veículos não autorizados em regiões ou órgãos públicos, análise do cumprimento de metas por prestadores de serviços – como no caso da coleta de resíduos e lixo urbano – e por aí vai.

De alguma forma, isso tudo tem a ver com a cibersegurança e a privacidade de dados, já que é possível obter dados pessoais dos usuários e sua localização por meio das aplicações acessadas em smartphones. Embora a coleta de dados e a sua manutenção de forma anônima não interfiram na privacidade de dados, torna-se muito necessária uma política estrita de gestão dos dados correlacionados e o respaldo do poder judiciário e de órgãos de segurança das administrações municipais. Principalmente nos casos de descumprimento de normas ou de atitudes antissociais para que se identifiquem eventuais agressores ou ofensores de regramentos pré-estabelecidos.

É importante que os dados pessoais estejam seguros e todos os procedimentos, em conformidade com as leis, já que ferramentas que garantam essa proteção tornam as cidades inteligentes confiáveis aos cidadãos. Por isso, as administrações públicas devem assegurar que o controle dos dados atenda à regulamentação. Há leis de proteção de dados que dão direito aos cidadãos ao acesso a suas informações, podendo corrigi-las ou apagá-las do sistema.

Outro recurso muito interessante para o sucesso de tudo o que estamos tratando aqui é uma coordenação para que os sistemas estejam integrados entre cidades de uma mesma microrregião, com o objetivo de compartilhar informações de interesse comum – com muita atenção à questão da privacidade. A integração auxilia as prefeituras na gestão de suas cidades e também no planejamento de investimentos compartilhados a partir de fundos estaduais e federais.

No Brasil temos alguns exemplos bem sucedidos que implementaram sistemas de muralhas, desde pequenas e médias como Monteiro Lobato, Piedade, Araras, Botucatu e Limeira, em São Paulo; até a capital do Paraná, Curitiba. Grandes cidades como São Paulo (SmartSampa) e Rio de Janeiro (DataRIO) contam com sistemas de grande capacidade e multiplicidade de serviços. Porém, dadas as suas dimensões, ainda atuam de forma restrita a algumas regiões.

As muralhas digitais, portanto, representam um princípio de eficiência para oferecer ao público mais qualidade vida e, a depender de projetos bem elaborados, favorecer ambientes mais sustentáveis e com inclusão social. É assim que vemos os recursos tecnológicos sendo usados a favor do ser humano, como deve ser.

*Hermano Pinto é Diretor do Portfólio de Tecnologia e Infraestrutura da Informa Markets, responsável pelo Futurecom, maior evento de tecnologia, telecomunicações e transformação digital da América Latina.

Aviso: A opinião apresentada neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software

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