*Por Alcely Strutz Barroso
As mudanças induzidas pela tecnologia no mercado de trabalho vêm sendo pautas de reflexão há vários anos. Manuel Castells, em sua obra do final da década de 1990 “A Sociedade em Rede: A Era da informação: Economia, sociedade e cultura”, analisou de forma abrangente e sob vários prismas um cenário mundial possível graças aos avanços tecnológicos em tempos de globalização. Naquele momento, já se apontava o surgimento de uma nova estrutura social decorrente de vários fatores, dentre eles a crescente integração entre países. O estabelecimento deste novo modelo de desenvolvimento motivou o surgimento de uma força de trabalho com características globais. Segundo Castells, “cada vez mais, as pessoas organizam seu significado não em torno do que fazem, mas com base no que elas são ou acreditam que são”.
Trazendo a análise para os dias de hoje, o avanço da tecnologia continuou a passos largos e o início do século XXI foi marcado pela revolução das plataformas, uma nova forma de fazer negócios combinando tecnologia e modelos disruptivos que criam valor aos participantes da rede. As novas gerações, que já nasceram nesse mundo mais flexível e em rede, adaptaram-se rapidamente, identificaram seu valor e contribuíram para o crescimento exponencial das plataformas. Esse foi, e continua sendo, um dos maiores desafios competitivos para empresas tradicionais consolidadas no mercado. Assim, o tema da transformação digital ganhou espaço na agenda de empresários e líderes que perceberam que tal mudança é questão de sobrevivência.
Mas, se as plataformas transformaram o mundo dos negócios, foi porque há líderes visionários, obcecados pela experiência do cliente, abertos a adotar práticas ágeis e decidir por arquiteturas flexíveis e dinâmicas, com alta disponibilidade e capacidade de expansão na medida do crescimento do seu negócio. A liderança empresarial tem o dever de estar atualizada e preparada para tomar decisões de forma assertiva garantindo uma estrutura organizacional com menos hierarquia, mais transparência e flexibilidade para alimentar um ambiente de contínuo desenvolvimento para retenção de talentos.
O êxito dos novos modelos de negócio digitais está em criar equipes com alto conhecimento técnico e com maturidade em habilidades socioemocionais, os chamados “soft skills”. Com os avanços da Inteligência Artificial, acredita-se que o trabalhador do futuro contará com seu próprio assistente digital, especialista nos diversos setores da empresa: recursos humanos, marketing, finanças, operações, que vai ajudá-lo a otimizar e acelerar seu trabalho. A inesperada pandemia de COVID-19 provocou uma revisão de prioridades por parte dos executivos, que passam a se dedicar mais do que há dois anos aos assuntos como a gestão de crises, cyber-segurança e segurança no local de trabalho. Essas são as conclusões de um recente estudo feito com 3 . 450 executivos em 22 indústrias de 20 países pel o IBM Institute of Business Value , que revela também que 94% deles pretendem participar em modelos de negócio baseados em plataformas. E ainda, para 87% dos entrevistados o controle de custos será crucial para seus negócios. Um segundo estudo intitulado “O Futuro do Trabalho após o COVID-19” , feito pela consultoria McKinsey & Company , aponta que a pandemia acelerou tendências como o trabalho remoto, transações virtuais e e-commerce, adoção de automação e Inteligência Artificial.
Nos últimos anos, o setor de tecnologia tem sofrido com a escassez de profissionais em todo o mundo. A tendência é que a competição mundial por profissionais com conhecimentos técnicos se intensifique com a permanência do trabalho remoto em algumas funções que o adotaram durante a pandemia. Segundo a Brasscom, até 2024 o Brasil precisará 420 mil profissionais no setor de tecnologia. Atualmente se formam apenas cerca de 46 mil por ano, o que evidencia a necessidade urgente de mais investimento em educação e estímulo ao ingresso de profissionais nas carreiras de tecnologia, para atender, ainda que parcialmente, a alta demanda de profissionais no Brasil.
É inevitável que daqui para a frente as equipes tenham que, cada vez mais, ser resilientes para trabalhar em cenários em constante mudança. Será fundamental o papel da liderança em criar condições para que suas equipes se mantenham engajadas, motivadas e colaborem para garantir fluxos de trabalho integrados. Os líderes precisarão ter consciência de seu papel, atuando para incentivar e manter o foco na educação contínua e personalizada.
*Alcely Strutz Barroso, Coordenadora do Comitê do Futuro do Trabalho da ABES