*Por Jamile Sabatini Marques
Estamos vivendo um momento polarizado quando se trata de empregos no Brasil e no mundo: enquanto as empresas do setor tecnológico carecem de mão de obra qualificada, há um grande número de pessoas buscando empregos – 12,3 milhões somente no Brasil, de acordo com o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E, como consequência, vemos pessoas capacitadas, que poderiam ser englobadas pelo setor, e hoje estão se arriscando como empreendedores pela necessidade de prestar serviços por meio das plataformas digitais como uma forma de sustento.
Ao mesmo tempo que milhares de vagas do setor tecnológico no Brasil não estão sendo preenchidas por falta de qualificação, as empresas que não conseguem completar os seus quadros de funcionários estão perdendo competitividade, pois enfrentam dificuldades para fecharem novos projetos e contratos por falta de equipe técnica. O resultado, com isso, é claro: o Brasil deixa de gerar desenvolvimento econômico baseado no conhecimento e perde competitividade para os outros países
Nestes novos tempos que estamos enfrentando uma pandemia mundial e com a aceleração da transformação digital que veio com ela, o país ganhará espaço nas capacitações on-line para fazer com que este abismo entre a oferta de empregos e o número de desempregados diminua.
Uma alternativa que reduziria o abismo existente para as empresas atraírem profissionais formados em outras áreas e capacitá-los de acordo com as suas necessidades é o benefício fiscal. Existe hoje uma lista imensa e diversa de carreiras que as empresas de tecnologia apontam como as mais escassas: Cientista de Dados; Programador Python; Analista de Segurança cibernética; Arquiteto de Infraestrutura Cloud; Arquiteto de Soluções; Cientista de Inteligência Artificial e Cognição; Cientista Quântico; e Arquiteto de Aplicação, sendo este último apontado como uma “mosca branca” por alguns empresários, ou seja, aquele profissional raro no mercado e muito difícil de ser encontrado.
Outro ponto de atenção que muitas empresas acabam deixando de lado por falta de conhecimento é a forma em que buscam tais profissionais. Muitas optam por robôs que fazem uma pré-seleção do enorme volume de currículos recebidos para preencher uma vaga específica. Porém, se o candidato não está atento à descrição do cargo, pode deixar de lado as palavras-chave necessárias para que o robô o considere no processo seletivo ou para a próxima etapa de seleção. É importante que, por trás destes robôs, existam profissionais de recrutamento abertos e incentivados a fazer contratações que necessitam de treinamento e capacitações específicas.
Ainda é cedo para sabermos o impacto que o COVID-19 deixará, mas é inegável que a transformação digital foi acelerada em alguns anos. A cada dia teremos novos desafios e, com eles, oportunidades para novas tecnologias se inserirem em uma nova forma de trabalho e de qualidade de vida.
Políticas públicas para o fortalecimento dos setores de tecnologia e digital é um dos principais caminhos para a recuperação econômica do Brasil e, para tanto, se faz necessário a utilização das federações e das instituições de ensino e institutos na formação de profissionais para este novo mundo. Esses serão os principais eixos sobre os quais a demanda por emprego girará nos próximos anos.
* Jamile Sabatini Marques é diretora de inovação e fomento da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software