*Por Dennis Herszkowicz,
Os últimos dois anos foram, sem dúvida, os mais desafiadores para os empresários e empreendedores brasileiros – que historicamente já são especialistas em resiliência. As relações humanas se transformaram de maneira significativa, e em especial a maneira como as empresas se relacionam com seus colaboradores, parceiros de negócios e clientes.
Muito do que era seguido e tido como padrão de sucesso há 2 anos, hoje sequer faz parte da realidade das empresas. Mesmo com o avanço da vacinação, que já imunizou quase 2/3 da população brasileira, e uma retomada gradual das atividades presenciais — sem deixar de seguir todas as medidas sanitárias ainda necessárias — seria um engano pensar que podemos voltar a atuar como antes da pandemia. A sociedade mudou e algumas das mudanças vieram para ficar.
Por isso, para mim, uma das chaves para ter um negócio bem-sucedido em 2022 é justamente entender esse cenário: identificar como essas mudanças e transformações da sociedade vão impactar as empresas nessa “nova era”, seja na maneira de trabalhar, consumir, inovar ou se promover para todos os públicos. A partir dessa análise primária, aposto em algumas tendências que todas as companhias, independente do porte e setor, deveriam ficar de olho para se manterem relevantes e produtivas.
Em primeiro lugar, as empresas precisam ter o pensamento de ESG como premissa do negócio. O conceito de Social-Ambiental-Governança deve ser o Norte para todas as suas ações, produtos e serviços, desde a concepção até a entrega final. Em 2022 não haverá mais espaço para companhias que não sigam normas rígidas de responsabilidade com a sociedade, meio ambiente e gestão. Todos os stakeholders valorizam e pesquisam as atividades do negócio antes de decidir investir, ser parceiro, cliente ou trabalhar na empresa.
Um segundo ponto importante é que as empresas também devem se atentar à união de produtividade com qualidade de vida no trabalho. A preocupação — correta — com a saúde mental foi intensificada desde o início da pandemia. E isso necessariamente se estende à vida corporativa. Mas como ter esse equilíbrio? Uma das possibilidades é uma gestão de tarefas mais inteligente, com mais autonomia para os colaboradores, melhor senso de priorização dos assuntos, o uso do remoto e do presencial de forma inteligente – a favor dos resultados, fugindo de mitos e exageros.
Isso significa que mais do que nunca será fundamental transmitir confiança ao time, descentralizando decisões e tratando os profissionais no cotidiano do trabalho com respeito, como pessoas adultas que são. Pode parecer simplista ou até mesmo óbvio, mas essas pequenas demonstrações podem fazer a diferença para que todos se sintam mais confiantes e satisfeitos em suas rotinas diárias. A experiência dos últimos meses com trabalho remoto – que ainda será realidade para aqueles que adotarem o modelo híbrido – veio para ficar e nos ensinou muito sobre confiança, responsabilidade e como lidar melhor com a relação entre ser produtivo e manter uma vida mentalmente saudável.
A terceira tendência está bastante relacionada com a anterior: a adequação ao modelo híbrido. Nós aprendemos a viver digitalmente, algo que era impensável para muitas companhias no começo de 2020. Todos que puderam, levaram seus colaboradores para o home office e seus negócios para o digital. Mesmo com a retomada gradual, não seremos mais 100% físicos – com raras exceções. Um levantamento da Great Place to Work (GPTW) com mais de duas mil empresas brasileiras mostra que 30% já possuem novas políticas de formato de trabalho. É importante as empresas estarem preparadas para uma nova rotina, seja em termos de estrutura tecnológica e física, seja no que diz respeito a relações trabalhistas.
Outra tendência que merece atenção das empresas é buscar — e encontrar — vias de inovação constante. Algo que acelerou de maneira exponencial nos últimos meses foi o aumento do número de startups no Brasil. Um levantamento da plataforma Liga Ventures identificou mais de 16 mil startups no Brasil, que atuam em dezenas de setores diferentes da economia. E de acordo com o relatório Inside Venture Capital da Distrito, o valor de aportes recebidos por startups em 2021 já é superior a U$5 bilhões.
Há milhares de empresas produzindo soluções que podem complementar ou aprimorar o seu negócio. E, muitas vezes, trabalhar em parceria com uma startup é mais eficiente, produtivo, e tem uma relação custo-benefício melhor do que inovar dentro de casa. E possibilita focar com mais afinco e inteligência no core business da sua empresa.
Por fim, destaco também a necessidade de uma estratégia multicanal. Hoje, todo mundo se acostumou a consumir e se relacionar de maneira digital. De acordo com uma pesquisa da Harvard Business Review, os clientes que utilizam mais de um canal de compras gastam 4% a mais em lojas físicas e 10% a mais em lojas online em comparação com consumidores que utilizam apenas um canal para suas compras.
Ou seja, além de as pessoas estarem mais dispostas a comprar online — um hábito irreversível –, esse cliente tende a consumir mais se a marca ou empresa estabelece uma conversa eficiente em seus diferentes canais não só de vendas, mas de contato com o cliente. Não basta ter uma estratégia focada no digital, é preciso utilizar ferramentas que auxiliem a se relacionar de maneira inteligente em todas as frentes.
Com um bom entendimento sobre como agir frente à nova realidade do país e compreender as tendências do mercado, sem dúvidas há oportunidades a serem aproveitadas. As ferramentas para colocar tudo isso em prática já existem: pessoas, tecnologia e um bom planejamento organizacional. Vamos nessa?
*Dennis Herszkowicz, presidente da TOTVS
Aviso: A opinião apresentada neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software