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*Por Luiz Mariotto

A SAP tornou-se um pilar de grandes empresas em todo o mundo, com a sua plataforma ECC conhecida pela sua robustez e confiabilidade. Em 2010, a SAP lançou o Hana, seu banco de dados in-memory e, em 2015, lançou o S/4Hana, a nova geração de seu software ERP usando o Hana como banco de dados nativo para substituir Oracle, MS-SQL Server e DB2. Desde então o S/4Hana vem sendo posicionado aos clientes SAP como um ERP otimizado, aproveitando os recursos in-memory e analíticos do Hana. A SAP até anunciou planos para descontinuar o suporte de ECC e outros bancos de dados até 2027, o que pode ajudar a SAP a capturar receitas de bancos de dados de seus concorrentes.

Após o lançamento do S/4Hana, a SAP anunciou em 2016 seu primeiro S/4Hana em nuvem pública (anteriormente chamado de Essentials Edition e Multi-Tenant Edition), enfatizando sua estratégia de mudar seus negócios para a nuvem. Embora novos clientes pareçam estar adotando a versão na nuvem, muitos usuários existentes questionam cada vez mais se existe uma necessidade de negócio para migrar para esta versão, conforme destaca uma declaração recente do grupo alemão de usuários de SAP (DSAG).

A SAP teve que ser criativa para convencer sua base de clientes a migrar para a nuvem usando uma variedade de modelos de assinatura implantados em opções de nuvem privada, começando com o Hana Enterprise Cloud (HEC) rodando em datacenters da SAP e agora chamado S/4Hana Cloud, Private Edition. A SAP também está incentivando (se não pressionando…) o maior número possível de seus 35.000 clientes de ECC a fazerem a migração usando a oferta “Rise with SAP”. 

Em sua recente conferência de resultados trimestrais, aumentaram a aposta sobre esta estratégia, afirmando que os usuários só terão acesso a inovações se utilizarem o SAP S/4HANA Cloud ou a nuvem pública. Os clientes também não terão acesso se estiverem usando uma implementação hospedada de Infraestrutura como Serviço (IaaS) fora do Rise ou S/4Hana on-premise. Além disso, a IA generativa e a funcionalidade de sustentabilidade estão restritas aos usuários da nuvem pública. Como salienta Thomas Henzler, membro do Conselho da DSAG: “…se este é o caso das funcionalidades de IA, com o que os clientes existentes poderão contar para outras inovações?”

No início deste ano, o DSAG solicitou à SAP compromissos para garantir o mesmo nível de investimento na versão on-premise do S/4Hana, comparada à versão em nuvem pública. Compreensivelmente, os clientes estão preocupados por terem feito investimentos significativos em versões existentes de aplicações SAP, além de ainda esperarem obter um retorno de seu investimento. Se a SAP estiver preparada apenas para focar a inovação na versão em nuvem das suas aplicações, os clientes não só terão de se preocupar com os investimentos existentes, mas também se essas implementações serão válidas no futuro.

É hora de começar a fazer algumas perguntas difíceis sobre o futuro roadmap da SAP. Aqui estão três questões importantes que os clientes vêm ponderando sobre sua evolução com a SAP:

  1. Se você usa o ECC, quais são os benefícios corporativos mensuráveis da migração para o S/4Hana? O fim do suporte convencional para Business Suite e ECC até 2027 justifica um projeto de migração caro e arriscado?

Embora alguns licenciados SAP tenham optado pela plataforma mais recente, a maioria das empresas continua cautelosa. O Gartner estima que “70% dos clientes SAP confiam no ECC e ainda não aderiram ao S/4Hana, apesar de ter sido lançado há sete anos”. E a razão para isso é muito simples: os usuários podem não ser capazes de arcar com o risco associado a um potencial projeto multimilionário e plurianual que parece não ter uma necessidade de negócio clara e que pode não garantir os requisitos de transformação digital que a empresa busca. Em tempos de incerteza econômica, cada dólar gasto em atualizações de software deve considerar em primeiro lugar o retorno do investimento e os riscos associados.

Neste momento, os principais objetivos da maioria das organizações são a melhoria da rentabilidade e a aceleração do crescimento. Portanto, o CIO deve redistribuir os recursos de TI em projetos de maior valor que apoiem esses objetivos. Também é fundamental evitar que uma parcela excessiva de recursos de TI seja dedicada a atualizações intermináveis, dispendiosas e, muitas vezes, desnecessárias de versões de ERP, migrações e projetos de TI.

  1. Qual é a sua estratégia de migração S/4Hana: Greenfield ou Brownfield?

Para a maioria dos clientes, esta é a questão de (muitos) milhões de dólares que orientará a necessidade de negócio.

A abordagem Greenfield geralmente significa uma implementação totalmente nova do cenário S/4Hana, começando do zero, o que normalmente custa mais porque envolve uma nova instalação e uma revisão e redesenho completos dos processos de negócios. Para muitas organizações, isto também representa uma oportunidade para instigar uma nova implementação, removendo dados antigos e personalizações para implementar uma transformação completa do processo.

Na abordagem Brownfield, você pode converter seus aplicativos SAP atuais em S/4Hana com a base de processos de negócios existentes fundamentados em ECC, para que possa manter a maioria das configurações, customizações e dados desenvolvidos ao longo do tempo. Embora uma implantação brownfield possa ser mais rápida e menos perturbadora para os usuários e para a empresa, o desafio é: como alcançar o ROI para um projeto que, na prática, não alterará os processos? Existe o benefício básico de que as estratégias de “lift and shift” permitem reduzir os custos do seu próprio datacenter, mas será que esta abordagem permitirá inovar e criar valor para o negócio?

  1. Qual é a versão correta do S/4Hana: nuvem pública ou privada no Rise?

No início deste ano, a SAP anunciou o programa Grow, que reforça a sua estratégia de priorizar o ERP de nuvem pública, anunciando que muitas das suas futuras inovações, como a IA, só estarão disponíveis na versão pública. Vemos muitas empresas de médio porte adotando o S/4Hana em nuvem pública, mas para milhares de clientes SAP, dependendo de customizações (e para aqueles que planejam uma migração brownfield do ECC), a SAP está oferecendo Rise with SAP – S/4Hana em nuvem privada.

Rise with SAP é uma oferta que reúne software S/4Hana Cloud com serviços gerenciados de hospedagem e infraestrutura, além de serviços adicionais em nuvem (Ariba Networks, Signavio, BTP etc) em um único contrato de assinatura, entregue e tecnicamente operado pela SAP. Embora você possa optar por executar a carga de trabalho SAP em uma infraestrutura de hiperescala parceira, você estará assinando um único contrato com a SAP e precisará seguir seus termos e condições.

O desafio aqui é que a nuvem privada do S/4Hana não é um aplicativo SaaS multilocatário, mas é basicamente o mesmo código da versão on-premise do S/4Hana hospedada na nuvem do parceiro. Isso requer atualizações e infraestrutura dedicada em um modelo de locatário único. Portanto, você pode ter o mesmo produto S/4Hana em execução em qualquer provedor de hiperescala IaaS de sua escolha e não precisa necessariamente agrupar o software, a infraestrutura e os serviços em um único contrato fechado com a SAP. Para muitas empresas que estão migrando cargas de trabalho SAP e não-SAP para a nuvem, pode fazer sentido fazer uma parceria diretamente com AWS, Azure ou GCP e ter benefícios de mais flexibilidade em torno de sua estratégia de implantação em nuvem.

Decisões, decisões, decisões

Os clientes SAP enfrentam um dilema ao planejar seu futuro roadmap com a SAP, mas o caminho lógico é a otimização de TI em conjunto com a inovação de TI. As empresas precisam reduzir o custo total de propriedade para gerir o seu ERP, maximizar o valor dos investimentos feitos em aplicações SAP e, ao mesmo tempo, liberar orçamento e recursos para investir em projetos de inovação que tenham impacto no crescimento e na vantagem competitiva. Para muitos usuários SAP, as principais funções do ERP são processos de negócios altamente confiáveis, antigos e que funcionam. Otimizar esses aplicativos sem ser forçado a migrá-los para seu equivalente SaaS reduz as interrupções. 

É claro que esses aplicativos precisarão de suporte e, se a SAP encerrar o suporte total para ECC6, é aí que entram os fornecedores de serviços independentes, que oferecem ainda mais benefícios. Os recursos internos são liberados para focar na inovação de TI e o valor obtido na redução das taxas de manutenção de suporte pode ser redirecionado para a inovação. A oportunidade então passa a ser a inovação nas bordas, o que permite que as organizações obtenham os recursos de que precisam sem ter que atualizar todo o sistema ERP transacional central da SAP.

Não importa onde você esteja em sua jornada SAP e independente do seu destino final, você deve avaliar todas as opções disponíveis e seguir sua própria estratégia de roadmap, considerando suas prioridades de negócios e o retorno dos investimentos, não necessariamente dependendo da estratégia ou do roadmap fornecido pelo fabricante.

*Luiz Mariotto, vice presidente de gerenciamento de produtos SAP da Rimini Street

Aviso: A opinião apresentada neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software

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