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*Por Paulo Milliet Roque e Mark Datysgeld

A maioria das empresas entende o papel fundamental da internet na condução de suas estratégias e na busca de um modelo que faça sentido para o século XXI. No entanto, como os padrões da rede estão em constante evolução, é essencial que as companhias acompanhem esses desenvolvimentos e se atualizem, quando necessário.

Nesse cenário de mudanças frequentes, um grande desafio que já temos identificado é a aceitação total dos variados caracteres e nomes de domínio existentes na web, em um esforço conhecido como Universal Acceptance (UA).

O nome de domínio é uma parte essencial da estratégia online de qualquer empresa, pois age como uma identidade permanente perante seus clientes, servindo como um elo de confiança ao qual são atrelados os certificados digitais que comprovam sua legitimidade na web. E em última instância, é um endereço legítimo que garante a entrega das mensagens da companhia para os demais, de maneira independente da intermediação de plataformas de terceiros.

Desde 2013 foram lançados diversos novos nomes de domínio genéricos (os chamados gTLDs) que permitem mais diversidade linguística e escolha do consumidor, desde os que representam indústrias, como o “.bank”, até os que representam populações, como o “.???” (“.chinês”). No entanto, apesar de aumentarem a liberdade de escolha, os lançamentos também trouxeram o desafio de conseguir apoio para esses domínios.

Embora fosse assumido, inicialmente, que isso seria um movimento natural, acabou se criando um problema de galinha e ovo: as pessoas hesitavam em se comprometer com uma nova tecnologia que ainda não era totalmente suportada, o que por consequência levava os desenvolvedores a não priorizarem a criação de soluções.

Para enfrentar esse desafio, o grupo diretor do UA foi fundado em 2015 como uma iniciativa independente e apoiada pela Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números (ICANN). O principal objetivo desse grupo é garantir que todos os nomes de domínio e endereços de e-mail possam ser usados por todos os aplicativos, dispositivos e sistemas existentes. Com o passar dos anos, essa iniciativa cresceu e passou a ser percebida como um importante próximo passo na evolução da rede, se tornando uma meta estratégica para a comunidade de Governança da Internet.

Mas, deveria o UA ser uma prioridade considerando que a adoção inicial foi baixa? A resposta é sim, especialmente agora. Em 2018, houve um grande aumento no registro dos novos domínios, com quase o dobro do volume em relação ao ano anterior. Isso é quase inevitável, pois conforme os nomes relevantes vão sendo ocupados nos domínios mais tradicionais, cresce o interesse no uso de outras extensões nas quais possa ser usado o termo que se deseja.

Além disso, algumas regiões estão efetivamente começando a adotar seus alfabetos locais como uma alternativa aos caracteres ASCII, que só cobrem o alfabeto latino. Isso pode ser particularmente observado no caso da Rússia, que já ultrapassou 1 milhão de registros de novos domínios com “.??” (“.rf”, Federação Russa). Já o governo indiano embarcou em uma política de distribuir endereços de e-mail nos 7 alfabetos locais, em sua estratégia de aumento de inclusão digital.

Embora o início tenha sido lento, agora é a cada dia mais realista a tendência desses nomes de domínio continuarem a se expandir e a necessidade de adaptação das empresas – aquelas que que não estão prontas correm o risco de perder clientes e oportunidades. Alguns dos principais membros da área de tecnologia perceberam essas tendências e estão fazendo esforços significativos para adaptarem, incluindo desenvolvedores de sistemas operacionais, fornecedores de navegadores e fabricantes de softwares de produtividade.

A ABES foi inclusive líder da mais recente pesquisa global a respeito do tema, que constatou índices alarmantes de compatibilidade nos 1.000 websites mais acessados do mundo em relação a e-mails com as novas extensões. Os curtos como “.top” já são aceitos em 97% dos casos, mas os longos como “.technology” possuem  84% de aceitação. No entanto naqueles que usam caracteres Unicode, que permitem o uso de alfabetos como o Han (chinês) a compatibilidade é de apenas 13%.

Acreditamos que a comunidade empresarial precisa começar a olhar para essa situação, trabalhando com seus times de TI para abrir as portas para novas maneiras de comunicação e interação. Os membros brasileiros do UA também estão disponíveis para servir como uma ponte de acesso a times internacionais com vasto conhecimento do tema que estão prontos para ajudar.

*Paulo Milliet Roque é co-fundador e vice-presidente da ABES (Associação Brasileira das Empresas de Software)

*Mark Datysgeld é embaixador da UASG (Universal Acceptance Steering Group)

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