Quando uma empresa está comprometida a adotar o DevOps e olha para dentro para analisar porque essas divergências ocorrem e quais os caminhos para saná-las, é comum que o diagnóstico seja o modelo ultrapassado da sua infraestrutura. Isso porque não é possível implementar uma cultura DevOps sem mexer nessa parte. O primeiro passo para essa mudança é movimentar a área de operações para o modelo ágil, da mesma forma que foi feito pela área de desenvolvimento.
Apesar de serem fundamentais uma para a outra, as duas áreas ainda se desentendem em um ponto crucial: inovação X estabilidade. Com a mesma intensidade que o desenvolvimento busca pelo novo – uma vez que está totalmente focado na entrega de novos produtos de maneira rápida – a área de operações quer manter tudo como está, pois assim garante o funcionamento completo do seu ambiente. Exemplo clássico: os desenvolvedores do Facebook querem entregar novas features a todo momento, já os profissionais da operação querem manter o site 100% do tempo, pois de nada adiantam os novos recursos se eles não puderem ser usados, certo?
Errado! A inovação é necessária e, em prol dela, as barreiras precisam ser quebradas. Mas esse não é um movimento simples, porque, muitas vezes, essas barreiras estão inclusive dentro da mesma área, como por exemplo quando o time de segurança não conversa com o de sistemas ou o de rede. Alguns profissionais ainda têm dificuldade de enxergar que o impacto das suas operações extrapola os limites da sua área e, na minha opinião, repetindo o que já destaquei, essa falta de integração é um dos principais entraves para a adoção de um novo modelo de trabalho.
A formação de times multidisciplinares, com profissionais habituados a modelos não tradicionais e orientados a resultados, que se comunicam e se integram por meio de processos e ferramentas em todas as suas etapas, é uma boa forma de estimular essa nova abordagem dentro das organizações. Além disso, outros 4 passos são importantes para a adoção de uma cultura DevOps: automatização das operações, implementação de fluxos de entregas balizados por pipelines, criação de métricas para cada uma das áreas e por último, e um dos mais importantes: pessoas. Apenas as pessoas conseguirão mudar o paradigma e sair de um ciclo de trabalho já viciado. Não é fácil, mas se o corpo gestor não acreditar no projeto e estimular a integração dos times, a iniciativa se torna inviável.
Porém, mais do que uma mudança necessária para seguir um dos movimentos mais disruptivos do mercado de tecnologia da atualidade, a adoção de um novo modelo de trabalho e gestão orientado à metodologia ágil é fundamental para que as empresas atendam ás exigências dos clientes e, consequentemente, mantenham-se atuantes de forma lucrativa e eficiente. Os clientes querem agilidade, respostas rápidas e experiências positivas e investimentos consistentes em projetos que tornem as operações cada vez mais digitais são fundamentais para essa entrega.
Fazer frente às startups é outra necessidade latente das companhias. Reconhecidamente mais ágeis e adaptadas a fazer negócios em um ambiente cada vez mais digital, a todo momento nascem startups prontas para resolver problemas que as grandes companhias nem sempre conseguem sanar com a mesma agilidade: como as fintechs que permitem a abertura de contas por meio de aplicativos, por exemplo, e que aceleraram essa mudança nas grandes instituições financeiras.
E engana-se quem pensa que grandes empresas não conseguem fazer essa transição pelo tamanho e peso de sua estrutura. Muitas estão, inclusive, investindo em uma nova área de digital – como se fosse uma verdadeira startup – para liderar essa mudança de abordagem e atuação. A contratação de profissionais experientes e o desenvolvimento de um projeto completo, que atue desde a análise de todo o legado de uma companhia para definir o que e como será migrado para o digital, será integrado ou simplesmente substituído, são pontos iniciais importantes. É dessa forma que mercados mais maduros – como o americano – agiram e que tem sido espelhado com sucesso no Brasil.
A adoção de uma nova forma de trabalho não é mais uma opção. Quando pegamos como modelo as corporações que já nasceram na nova economia – as chamadas companhias hipster, como Google, Facebook, Amazon, dentre outras gigantes – percebemos que a cultura já é outra, a abordagem já é ágil e, não por coincidência, são elas que estão dominando o mercado. É fundamental ficar atento.
Aviso: A opinião apresentada neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software.