Por Antonio Carlos de Brito*
IoT – a internet das coisas – compõe um dos pilares da Transformação Digital. De uma sigla desconhecida há 4 ou 5 anos, tornou-se uma das esperanças de se alcançar benefícios ao monitorar equipamentos à distância, ao automatizar fluxos de inspeção e de manutenção e até ao capacitar a comunicação e a colaboração entre equipamentos. As 20 bilhões de “coisas” conectadas pela internet devem movimentar mais de US$ 1 trilhão em 2022, segundo previsões do Gartner e do IDC.
Segundo a MPI (MPI’s Internet of Things Report: Challenges), 66% das empresas que adotaram uma estratégia de IoT aumentaram sua produtividade em mais que 5%; e 57% incrementaram em mais de 5% sua rentabilidade.
Assim como vimos o desempenho dos carros de Fórmula 1 saltar por meio da análise dos dados de telemetria – variáveis como temperatura dos fluidos e dos freios, vibração do motor, aceleração linear e centrípeta e outros tantos indicadores lidos à distância e transmitidos para os computadores dos engenheiros nos boxes das escuderias – estamos na era de ler e analisar dados e daí atuar sobre os equipamentos industriais e sobre pessoas à distância. Pessoas? Sim. Relógios que monitoram a pressão, o batimento cardíaco, a temperatura e a aceleração de pessoas revelam situações de potencial perigo que podem acionar alarmes em uma central para verificar se alguém caiu ou está prestes a ter um ataque cardíaco.
E o campo também não fica de fora. Os sensores que monitoram os movimentos, a temperatura e acidez dos estômagos das vacas (“A Vaca Conectada”) contam uma bela história sobre a implantação de IoT na agropecuária.
Os casos de uso de IoT mais citados contemplam:
1. Rastreabilidade de ativos e de materiais: assegurar otimização logística por meio de fácil localização e monitoramento de ativos críticos (“onde estão meus embarques”, “qual foi o caminho que o caminhão fez dentro da mina de ferro”)
2. Automação industrial: habilidade de lograr comunicação unificada dentro de uma indústria (ou seja, de um conjunto de companhias de um mesmo setor industrial) alavancando o uso de RFID e códigos de barras
3. Inteligência de operações: atingir desempenho operacional superior e incrementar capacidades de tomada de decisão explorando combinação, análise e entrega de insights a partir de múltiplos silos de informação
4. Indicadores chave de desempenho unificados: ganhar visibilidade em tempo real do desempenho operacional e comparativo de equipamentos (“painel de microparadas e monitoramento de capacidade produtiva global”)
5. Monitoramento da saúde dos ativos em tempo real: minimizar paradas de equipamentos e de ativos críticos por meio do monitoramento contínuo das condições de operação (são as máquinas dizendo – “regule-me ou conserte-me antes que eu quebre”)
6. Melhoria da gestão de operações: explorar conectividade, interoperabilidade, mobilidade e inteligência “crowd sourced” para suportar as iniciativas da Indústria 4.0, ou, em termos leigos, “conversa entre máquinas” – “vamos, nós máquinas, sincronizar as velocidades de produção nesta cadeia para reduzir os estoques intermediários”
Junto com o valor que IoT traz para as companhias na medida em que adotam estratégias específicas para a sua implementação e avançam na maturidade de suas instalações, as empresas enfrentam desafios, tais como adaptar tecnologias existentes, adaptar a rede para permitir o tráfego de dados dos sensores, dispor de talentos e habilidades para tratar de IoT e assim por diante. Mas o que mais chama atenção nesta pesquisa da MPI é que faltam ideias de como se implementa IoT em seus negócios e quais são os casos de uso apropriados para justificar os benefícios da sua implementação. Identificar oportunidades e benefícios de IoT foi citada em primeiro lugar com 46% de respostas entre entrevistados que trabalham em empresas de manufatura, para processos de implementação de IoT e com 42%, quando se perguntam sobre os desafios relacionados a produtos.
Outro aspecto importante é verificar por que tantos esforços de implementação de um programa de IoT fracassaram:
• Falha em estabelecer objetivos mensuráveis ANTES da implementação: 5% das companhias não alcançam os objetivos e 6% não estabelecem objetivos a priori
• Falha em gerenciar os prazos de implementação: 55% dos projetos estão atrasados
• Falha em gerenciar o orçamento dos projetos de implementação de IoT: 55% dos projetos gastam mais que o orçamento alocado para o projeto
Afinal, para que serve IoT?
Conceber uma estratégia para IoT consiste em atividade primária do projeto, tal como para qualquer iniciativa transformacional ou de impacto em sua companhia. Estabelecer objetivos claros e mensuráveis, para a fase de implementação – como escopo, prazos e orçamento – e para a fase de operação – como precisão e disponibilidade dos dados, tempo para a tomada de decisão e seu impacto – transformam uma iniciativa em um programa corporativo com resultados evidentes e justificáveis, gerando fundos para outros projetos atraentes como estes.
A internet das coisas deve habilitar a empresa a servir melhor seus clientes, fornecedores, empregados e criar benefícios operacionais que vão desde visibilidade de ativos a novas fontes de receitas e segmentos de clientes. Dentre os casos mais fáceis de justificar, como a melhoria nos processos de gestão de ativos, do aumento da vida útil do equipamento, da produtividade da força de manutenção e do aumento da capacidade produtiva, pode ser o projeto que falta à sua companhia para iniciar a implementação de uma estratégia de IoT juntamente com a modernização da sua plataforma de gestão de manutenção. Ou pode ser uma inovação embarcada em suas máquinas que são vendidas a outros clientes ou um conjunto de sensores que monitora vibração de veículos para que se derive a forma de conduzi-los e o risco que os condutores apresentam para fins de contratação de seguros.
IoT abre novas avenidas de negócios. Os desafios são grandes, mas contornáveis.
* Antonio Carlos de Brito, Sr Principal, Digital & Value Engineering, Infor LATAM
Aviso: A opinião apresentada neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software