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Adoção de tecnologias digitais deve promover eficiência, transparência, inclusão e a prestação de serviços que gerem valor público

*Por Camila Cristina Murta

A humanidade, desde os seus primórdios, tem sido orientada pelo pensamento linear – uma maneira sequencial e lógica de abordar os desafios e tomar decisões. Essa forma de pensamento, enraizada na nossa biologia e cultura, tem sido fundamental para o progresso da civilização. No entanto, as evoluções tecnológicas recentes, especialmente no campo digital, têm seguido um ritmo exponencial, desafiando profundamente nossa capacidade de compreensão e adaptação. Esta dissonância entre o pensamento linear e a aceleração tecnológica tem implicações profundas para a sociedade e para a prestação de serviços públicos no Brasil.

O futurista norteamericano Raymon Kurzweil, através do seu ensaio ‘’A Teoria das Mudanças Aceleradas’’, escrito em 2001, explica esse fenômeno de aceleração exponencial tecnológica. Segundo Kurzweil, a taxa de avanço tecnológico está aumentando exponencialmente, em vez de linearmente, devido ao crescente poder computacional e ao efeito de realimentação positiva das inovações. Isso significa que as mudanças tecnológicas estão ocorrendo cada vez mais rápido, superando nossa capacidade linear de acompanhá-las e adaptarmo-nos a elas.

As tecnologias digitais, impulsionadas pela computação, internet e dispositivos móveis, têm transformado radicalmente a forma como vivemos, trabalhamos e interagimos em um ritmo sem precedentes. Entretanto, os benefícios dessas inovações são frequentemente ofuscados por dúvidas, medos e incertezas acerca do seu impacto a longo prazo. Munhoz, especialista em inovação e futuro, reforça que “estamos vivendo uma época singular, onde a evolução exponencial das tecnologias desafia nossa capacidade linear de compreendê-las e nos adaptar a elas”.

Uma das principais consequências dessa evolução exponencial é a disrupção de setores tradicionais da economia. Empresas consolidadas, que outrora desfrutavam de posições dominantes, enfrentam o risco de serem ultrapassadas por novos players que adotam modelos de negócios inovadores, baseados em tecnologias disruptivas como Inteligência Artificial, Blockchain e Internet das Coisas. Essa realidade exige uma profunda transformação na forma como as empresas operam e se posicionam no mercado, bem como desafia os Governos a repensarem suas estratégias de regulação e incentivo à inovação e ao desenvolvimento tecnológico.

Como observou Winston Churchill, “Estamos transformando o mundo mais rápido do que nós mesmos podemos nos transformar, e estamos aplicando no presente os hábitos do passado” e essa realidade deve ser considerada por gestores públicos e privados na definição da adoção estrategica das tecnologias digitais. Ademais, o impacto das tecnologias digitais vai muito além da esfera econômica. A proliferação das redes sociais e das plataformas de comunicação online tem alterado drasticamente a forma como nos relacionamos e consumimos informações. Enquanto essas ferramentas ampliam a conectividade e o acesso ao conhecimento, também expõem a sociedade a riscos como a desinformação em massa, a polarização política, a segurança dos dados e a invasão de privacidade.

A adoção de tecnologias digitais, para qualquer Governo, é uma resposta às demandas da sociedade e deve estar orientada a promover a eficiência, a transparência, a inclusão e a prestação de serviços que gerem valor público. Mas essa transição requer investimentos significativos em infraestrutura de tecnologia da informação, capacitação de recursos humanos e fortalecimento da segurança cibernética. Além disso, é imprecindivel que o governo desenvolva políticas públicas e regulamentações que equilibrem a inovação tecnológica com a proteção dos direitos individuais e o interesse público. Sem não antes observar questões de ordem ética, de transparência e de responsabilidade.

Nesse cenário de transformação exponencial, a geração de transição, que vivenciou três revoluções tecnológicas de uso geral – a eletricidade, o computador e a internet –, desempenha um papel crucial na adaptação da sociedade. Essa geração tem a oportunidade de atuar como ponte, traduzindo e facilitando a compreensão das inovações tecnológicas para as gerações mais antigas, enquanto inspira e orienta as gerações mais jovens a abraçar essas mudanças com confiança e responsabilidade.

A evolução tecnológica exponencial desafia profundamente nossa forma linear de pensar e nos obriga a repensar nossas estruturas, processos e mentalidades. A sociedade e o Governo brasileiro enfrentam o desafio de acompanhar esse ritmo acelerado de mudanças, aproveitando os benefícios transformadores das tecnologias digitais, ao mesmo tempo em que mitigam os riscos e preservam os valores fundamentais. Essa jornada requer uma mentalidade aberta, disposição para aprender continuamente e uma abordagem colaborativa, envolvendo todos os setores da sociedade, a fim de construir um futuro digital inclusivo e sustentável.

*Camila Cristina Murta é líder do Grupo de Trabalho de Compras Públicas da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES)

Aviso: A opinião apresentada neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software

Artigo publicado originalmente no site IT Forum https://itforum.com.br/colunas/pensamento-linear-evolucao-tecnologica/

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