*Por Gustavo Jota
A concentração populacional nas áreas urbanas não é um fenômeno novo no Brasil. Desde a década de 1970, com a migração das áreas rurais, as cidades se tornaram grandes conglomerados de pessoas – e também de problemas. A tecnologia aplicada ao serviço público gera um conjunto de oportunidades aos gestores para melhorarem o serviço prestado e a infraestrutura da população nas cidades. A possibilidade de digitalizar processos, serviços, informações e prover ferramentas que elevem a produtividade dos servidores públicos, além de garantir indicadores acurados e confiáveis sobre a vida nas cidades, subsidiando a tomada de decisão, é o plano de fundo do que é convencionada a Cidade Inteligente.
Em todo o mundo, o conceito ou visão de Smart City pode, a princípio, parecer muito abrangente, dando margem a múltiplas interpretações e, porventura, investimentos errados, ou seja, que não se traduzem em melhoria na vida urbana. Há, no entanto, uma normativa internacional que equaciona esta visão, sendo que o Brasil já adaptou a norma ISO à sua realidade. Por aqui, esse conceito é definido pelas normas ABNT NBR ISO 37120, 37122 e 37123, permitindo por meio de indicadores padronizados e consistentes que as lideranças governamentais possam perseguir e garantir qualidade de vida, sustentabilidade, segurança, saúde, educação e outros programas de estado. Dois municípios do país atendem plenamente aos requisitos descritos nas normas – Campinas e São José dos Campos, no interior de São Paulo, que são oficialmente cidades inteligentes, visto que foram certificadas a partir destas normas.
Em paralelo à normatização, as regras da ABNT atuam como princípios norteadores que podem auxiliar os municípios na busca pelo conceito smart, garantindo que o investimento se reverta na melhoria de serviços para a população. Pela minha experiência, vejo que ainda há uma distância entre os grandes e os pequenos municípios, seja na abordagem para a Cidade Inteligente ou mesmo a sua necessidade de priorização. Enquanto as grandes cidades precisam monitorar, atender e prestar serviços em grande volume sem perder qualidade em emergência, segurança, saúde e educação, as menores precisam iniciar uma jornada de automação de atendimento e serviços ao cidadão com o melhor tempo de resposta e qualidade. Todavia, para ambas, é necessário considerar que investimentos em automação de atendimento e resposta a emergências ou saúde, educação, segurança pública e mesmo serviços relativos às infraestruturas das concessionárias mais críticas (energia, água, esgoto, gás e transporte), garantem ganhos diretos para a população e inclusive afetam positivamente mais de 15% dos indicadores das normas da ABNT que homologam uma cidade. Isso apenas com tecnologia.
Ao pensar no futuro de uma cidade, é comum que os prefeitos e vereadores discutam o Plano Diretor de Urbanismo. Minha experiência de anos atendendo ao setor público e desenvolvendo soluções para o segmento público e privado no Brasil e Exterior é que os municípios (e mesmo estados) precisam de um instrumento similar, uma espécie de Plano Diretor de Cidade Inteligente, que vai servir de guia para cumprir três propósitos fundamentais: 1-) guiar a digitalização de serviços ao cidadão; 2-) guiar a digitalização dentro da institucional incluindo as diversas secretarias e autarquias municipais e, finalmente; e 3-) permitir a coordenação e cooperação em cenários complexos de resposta a emergências e crises envolvendo o governo, concessionárias e porventura empresas privadas. Neste aspecto, as normas são guias que garantem a continuidade de investimento correto por parte do governo, tanto para tecnologia, quanto para o mundo físico, ou seja, direcionam o “roadmap” de aquisição de tecnologia e políticas de estado para Cidades Inteligentes.
A população espera do poder público serviços de qualidade, segurança, saúde e educação. É um retorno justo aguardado pelo cidadão, que depositou seus esforços, impostos e votos na esperança de cidades melhores. Neste sentido, a tecnologia é ferramenta fundamental para ajudar na promoção do desenvolvimento dos municípios.
Assim como as cidades se planejam para garantir o crescimento no plano físico, estas também precisam preparar seu futuro no mundo digital. É importante estabelecer indicadores e metas, Como na frase de Lord Kelvin, não é possível gerenciar aquilo que você não consegue medir. Temos que projetar soluções tecnológicas para atender tanto às pequenas, quanto às grandes cidades. Não é o tamanho do município que irá limitar a gestão. E, como em todo trabalho bem-sucedido de planejamento, o futuro precisa começar no presente.
*Gustavo Jota é gerente de Marketing da Dígitro Tecnologia