*Por Thiago Spósito
O investimento em tecnologia no Brasil superou US$ 75 bilhões em 2022, projetou a consultoria IDC Brasil. Segundo a estimativa, US$ 46 bilhões foram destinados à tecnologia da informação e US$ 29 bilhões a serviços de telecomunicações. No total, um crescimento de 5% frente a 2021. Modernização de sistemas legados e a melhoria do acesso a serviços críticos foram os principais impulsionadores dos gastos.
Mas há sistemas legados e o legado dos sistemas de TI. Por exemplo, a IDC prevê um declínio anual de 5,1% nas despesas globais de voz fixa em 2023, mostrando uma mudança de cultura das empresas. Também há infraestruturas que não mais apresentam possibilidade de suporte, que são de cara manutenção e oferecem riscos de cibersegurança e desempenho que, claro, precisam ser trocadas. No entanto, gostaria de falar sobre como a cada mudança de comando na TI das empresas o ‘tempo’ do legado é cada vez mais curto: a chamada Síndrome do Reset.
Costumo dizer que “Deus só criou o mundo em sete dias por que não tinha legado”. A transformação digital não é um projeto de prazo fixo —não se consegue em três meses, seis meses ou um ano. Ela nunca para. Ela nunca termina. O que ocorre, a meu ver, é uma irresponsabilidade por partes das empresas e dos líderes de TI.
A “dança das cadeiras” ou o “Vai-e-Vem” é bem comum no mercado corporativo e tanto os gestores de negócios como os de TI querem imprimir seu estilo de trabalho. Nada mais justo, no entanto, as companhias estão gastando mais com isso e não estão extraindo o máximo potencial das soluções que lá estão implementadas em nome de reinvenções excessivas ou investimento em tecnologias que estão no hype. Aliás, muitas vezes as ferramentas são trocadas antes mesmo de serem minimamente assimiladas pelos usuários.
Em um período de recursos cada vez mais escassos e cintos apertados, os CIOs precisam ter essa visão, além de perspicácia tecnológica, convicção e coragem para enfrentar esse desafio. É fundamental liderar suas organizações olhando para os orçamentos executados anteriormente e pensar o legado de TI como parte do patrimônio e do planejamento estratégico.
Esse tipo de dinâmica da síndrome do reset não é sustentável. Nem para o bolso, tampouco para o meio-ambiente. Aliás, a governança ambiental, social e corporativa (ESG) está aí no centro das discussões das corporações para maximizar os lucros. Então deixo aqui uma reflexão: falamos sempre de forma positiva em deixar um legado para as próximas gerações, para nossos filhos, então, por que não podemos pensar assim também na TI das empresas?
*Thiago Spósito, Sócio da ADD Value
Aviso: A opinião apresentada neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software