*Por Sergio da Motta
Os acontecimentos dos últimos anos demonstraram que “planejamento” é um recurso insuficiente para garantir a resiliência dada à complexidade e à imprevisibilidade do futuro. O que precisamos é ampliar a nossa capacidade de imaginar e elaborar cenários e investir consistentemente em habilidades que nos levem a reagir de forma coerente e consistente – chamo isso de “preparação” para o futuro.
A Tecnologia nos ajudou a sobreviver aos desafios impostos pela pandemia e transformou a forma como trabalhamos e vivemos. Ao mesmo tempo, deu origem ou alimentou o crescimento de desafios que devem ser considerados nos cenários para os quais devemos capacitar nossas organizações. Nesse artigo, aponto tendências que devem se destacar em 2023:
1. A segurança cibernética se consolida como um dos principais riscos de negócios e desafios de resiliência empresarial. Segundo pesquisa do Gartner, 88% dos conselhos já reconhecem a segurança cibernética dessa forma, e não como um risco eminentemente técnico. Ransomware hoje é um negócio organizado, profissional e sofisticado, com marketing, marketplace digitais e estruturas financeiras sofisticadas. Esse modelo chegou a ser batizado de RaaS (“Ransomware as a service” ou ”Ransomware como serviço”). Muitas empresas sofrem ataques diários e esses são crescentemente voltados aos componentes mais críticos do negócio, como as áreas comerciais e industriais, visando a paralisação dos negócios, cujo custo justifica a demanda por resgates muito mais relevantes. A cada dia, os ataques aos chamados “Big Phish” (executivos de grandes empresas são os grandes alvos) ganham mais relevância e destaque no mercado global. As alternativas de seguros e soluções exclusivamente técnicas não são suficientes para prevenir os incidentes ou garantir a recuperação rápida.
2. Ampliação do uso de ferramentas de análise e Inteligência Artificial. O volume de dados gerados e disponíveis, a complexidade dos ambientes em diferentes TI’s, plataformas e tipos de nuvens, bem como o diferencial que seu tratamento demanda, exigem a ampliação do uso de ferramentas de análise e Inteligência Artificial e uma nova disciplina de “DataOps”. Sem arquiteturas empresariais robustas e seguras, além de disciplina para captura, armazenamento, tratamento, contextualização e interpretação, é difícil garantir a qualidade e confiabilidade dos dados e escalar a produção de insights. Muitos projetos falham em decorrência de um planejamento pouco estruturado e alinhado com as demandas do negócio, pela falta de preparação adequada dos dados (usamos somente cerca de 30% dos dados que produzimos), pela definição falha dos data-lakes, dos fluxos de trabalho ou falta de escala/capacidade na solução de IA.
3. Os casos de uso do 5G privado irão além da Indústria 4.0, o setor de varejo é provavelmente a próxima grande fronteira. Os setores de manufatura, petroquímica, mineração, siderurgia e agricultura iniciaram e devem acelerar a implementação de redes sem fio privadas, baseadas em tecnologia 4G e 5G, para melhor monitorar suas operações, incrementar a segurança e eficiência, eliminar os gaps de cobertura, além de proporcionar reduções de custos. Outros setores estão amadurecendo casos de uso e, no varejo, a expansão da conectividade criará as condições para a próxima geração de experiência de compra, com integração das tecnologias de identificação dos consumidores, checkout inteligentes, pagamentos sem contato, promoções dinâmicas, experiências de imersão (Realidade virtual, Metaverso) etc.
4. A formação de profissionais e atualização de skills será prioridade para os clientes de mainframe. Os elevados custos da plataforma, a preocupação com a dependência da tecnologia legada e os ciclos mais longos para desenvolvimento de soluções pressionam os clientes na direção de migrar seus dados e aplicativos para soluções em nuvens públicas e privadas. Apesar da expansão e amadurecimento das soluções low-code/no-code para viabilizar o acesso aos dados, a limitação de capacitação e disponibilidade de especialistas em novas linguagens de programação e tecnologias, limita o avanço dos projetos de modernização. Pesquisas recentes apontam que 33% dos skills presentes em posições em 2017 não eram mais necessários em 2021. Em contrapartida, 10% de novos skills são necessários todo ano para execução de uma simples atividade, o que nos leva a uma necessidade da busca constante de novos métodos de aprendizagem.
5. O sucesso do recrutamento e retenção dos melhores profissionais no mundo do trabalho híbrido depende da experiência digital dos candidatos e funcionários. O local de trabalho digital se transformou em um ambiente omnicanal, onde os profissionais são mais engajados e produtivos quando podem escolher os canais que preferem usar para se envolver e colaborar nas empresas. Nos próximos anos, as experiências digitais ocuparão o primeiro lugar na lista de motivos para se eleger uma empresa para se trabalhar, além de afetar a retenção. De acordo com uma pesquisa da Qualtrics, os funcionários são 230% mais engajados e 85% mais propensos a permanecer além de 3 anos em um emprego se tiverem o suporte tecnológico certo. As empresas precisam para garantir que o ambiente e as tecnologias disponíveis proporcionem uma experiência favorável aos funcionários e os incentive a permanecer nas empresas
6. Maior adesão das empresas ao modelo de Distributed Cloud. O modelo preconiza a distribuição dos workloads em diferentes localidades para atender a requisitos de soberania, conformidade e desempenho, bem como poder dar suporte para a computação de borda (Edge Computing), enquanto a operação, governança e evolução dos serviços seguem gerenciados centralmente pelo provedor de nuvem pública. Vale destacar que soberania é um tema amplamente debatido e passa a ser uma das tendências do uso de cloud nos próximos anos, seja pelas regulações regionais e locais, seja pelo compliance estabelecido pela empresa. É necessária uma atenção especial ao fluxo dos dados, monitoração e controle, bem como tratar cuidadosamente a segurança de dados críticos de negócio, que, se vazados, afetam o valor da marca e a competitividade de mercado.
Não tenho dúvidas de que 2023 será de desafios e oportunidades. Investir em capacitação para as tendências descritas acima pode ser uma receita para ajudar as empresas a se prepararem e lidarem com a imprevisibilidade do próximo ano.
*Sergio da Motta, líder de Kyndryl Consult para Brasil
Aviso: A opinião apresentada neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software