*Por Julio Guedes
Eu comecei a me interessar por estatística na infância, o que pode soar um pouco estranho porque esse tipo de ciência exata não era popular entre as crianças. Eu sempre gostei de números e de esporte, então comecei a fazer cálculos manuais ligados ao futebol por volta dos 10 anos. Foi assim que juntei duas grandes paixões. Eis o “xis da questão”.
Eu identificava os clubes que venciam ou perdiam mais, quem fazia mais gols, entre outras questões, e fui me desenvolvendo nisso. Hoje em dia, diversos esportes usam a estatística em suas estratégias e tem até jogos virtuais de futebol, que fazem muito sucesso entre os torcedores brasileiros (sou um deles, inclusive).
Bom, quando chegou o momento de ir para a faculdade, escolhi o curso de Estatística, mas ainda não tinha ideia sobre o que eu faria exatamente e como eu iria trabalhar. Eu costumo dizer que é um curso fácil para entrar e difícil de sair. Dos 70 alunos na universidade, somente dois da minha turma se formaram no ano da conclusão do curso, em 1994.
No início, eu não imaginava como era a vida do estatístico. A maioria dos alunos caia de paraquedas na primeira aula, diferentemente de hoje que tem muito conteúdo na internet e quem quiser já chega à universidade sabendo o que lhe espera durante e após o curso.
No último ano da faculdade, fiz um estágio numa empresa de tecnologia, uma experiência profissional muito produtiva. A empresa fabricava laptops e havia um processo rígido para verificar se as peças estavam funcionando antes da comercialização do equipamento. Minha função era fazer o controle de qualidade por meio de testes que estatisticamente comprovavam se os itens iriam aguentar a garantia ou não.
Em 1995, depois do estágio, trabalhei cerca de 4 meses com um ex-professor da faculdade em consultoria de processo de qualidade. Nesse período pude conhecer um outro lado do mundo corporativo, visitando indústrias e empresas menores também.
No mesmo ano, comecei a trabalhar em um banco com sistemas de informações gerenciais (MIS). Não era um setor de estatística, mas tive oportunidade de conhecer os números e a gerar insights.
Passados alguns meses, foi criada uma área de estatística para crédito neste banco, de forma manual. Fui o segundo estatístico a fazer parte do departamento, que começou do zero. Após 3 anos e meio, me tornei gerente e fazia o que mais gostava: trabalhar com modelagem estatística.
Na época, havia muitos analistas de crédito avaliando manualmente quem poderia abrir uma conta no banco ou não. Começamos a fazer os modelos de crédito de scores e, com isso, conseguimos automatizar boa parte dos processos. Os bancos começaram a emprestar mais e a reduzir perdas.
Ao completar 13 anos no banco, já tinha atuado em vários setores, inclusive na área de crédito para financiamento de veículos e imóveis. Fiquei 1 ano como superintendente de crédito e tocava a parte de projetos ligados a cartão de crédito com um time grande.
Em março deste ano, completei 12 anos na Serasa Experian! Entrei como gerente sênior da área de produtos ligados à gestão de carteira e cobrança. Exerci a função somente por 4 meses, pois surgiu uma chance de participar de um novo processo seletivo dentro da empresa para uma vaga de gerente sênior de Analytics. Foi uma seleção com várias etapas e concorri com colegas do mercado. Eu acabei sendo selecionado, evolui na empresa e hoje sou diretor de Analytics.
Faz parte da minha rotina lidar com grandes números e pensar ao lado de um grupo técnico capacitado sobre como podemos chegar num caminho ideal. Eu acredito que “triturando os dados” conseguiremos surpreender os nossos clientes e os times internos. Lidero uma equipe formada por 130 pessoas e conto com gerentes que estão diretamente com o time, mas tenho uma preocupação diária em ouvir os clientes internos. Também ouço atentamente os clientes externos, digiro as informações e apresento para o time, fazendo com que a roda gire, melhorando a performance e os resultados.
É um dia a dia intenso de debates sobre questões que precisam ser resolvidas. O que me mantém motivado em participar de diversos problemas potenciais que acabam virando oportunidades e que me desafiam a me preparar para fazer uma provocação construtiva, como questionar por que estamos fazendo determinada coisa. Eu percebo como essa postura ajuda as pessoas a se desenvolverem quando colocam as coisas sob outra óptica.
Os dados estão disponíveis para todos, mas a forma como se trabalha com as informações é diferente. Se você entrega uma base para 10 pessoas avaliarem é possível que surjam muitas respostas diferentes. Eu fico feliz quando vejo isso, pois a discussão contínua é ótima para extrair o melhor dos dados. Eu acredito que todas as pessoas e empresas precisam entender como as estatísticas podem ajudá-las no dia a dia.
Há 1 ano fui convidado a fazer parte do Comitê de Riscos do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), importante órgão que garante os investimentos de até 250 mil reais para todos os brasileiros em cada um dos bancos. O FGC precisava do conhecimento de crédito e Analytics e com isto aceitei o desafio. Mais uma nova etapa na carreira profissional em paralelo com a função na Serasa Experian.
Analisando os dados da minha trajetória vejo que entrar na faculdade de estatística foi a minha melhor decisão. Um golaço e acreditando no Brasil nesta Copa do Mundo com muita estatística sendo utilizada para ajudar a nossa seleção!!!
*Julio Guedes é diretor de Analytics da Serasa Experian
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