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Por Reinaldo Dias, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie

 

Estamos surfando numa nova onda de mudanças radicais na produção industrial, resultado da convergência da robótica, da nanotecnologia, da biotecnologia, das tecnologias de informação e da inteligência artificial. Esta nova revolução industrial, a quarta, também conhecida como Industria 4.0, está provocando mudanças muito rápidas na indústria e no modo como os negócios ocorrem no mercado, na relação com os clientes e na demanda de seus produtos.
 
A humanidade viveu três revoluções industriais desde o século XVIII. A primeira introduziu a máquina a vapor, passou pela segunda caracterizada pelo uso da eletricidade e da produção em massa, em seguida a terceira, que teve como referência a tecnologia e a automação, chegando na atual, a quarta, da era digital.
 
A revolução que estamos vivenciando é mais rápida que as anteriores e provoca sensíveis mudanças na forma como produzimos, distribuímos e consumimos. A quarta revolução industrial em curso se caracteriza pela aceleração de todos os processos inovadores. De acordo com Klaus Schwab, em seu livro “A quarta revolução industrial”: "Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes".
 
As revoluções industriais não afetam somente a tecnologia. Ao longo da história transformaram sistemas econômicos, políticos, sociais e ambientais. Com a indústria 4.0 não será diferente. Seus impactos ficarão cada vez mais visíveis e isto está ocorrendo numa velocidade sem precedentes. As tecnologias emergentes criam novas formas de mobilidade, de comercialização, de geração de valor e distribuição de oportunidades. O desafio mais importante que temos hoje é garantir que essas oportunidades sejam distribuídas de modo equitativo.
 
A história nos ensina que todas as revoluções têm ganhadores e perdedores. Há, portanto, urgente necessidade de garantir que mais pessoas, tanto quanto seja possível, participem desse futuro de tecnologias cada vez mais sofisticadas. Ao governo cabe aumentar seus investimentos em educação, fortalecendo o ensino de ciências e matemática com base em novos valores. A produção industrial dependerá, cada vez mais, da educação em áreas que possibilitem a formação de talentos capacitados a criarem e gerirem processos de alto desempenho com base em valores como respeito ao meio ambiente e à diversidade humana.
 
A participação é fundamental nesse processo. Os sistemas tecnológicos não são neutros, expressam e refletem a ética e as intenções de seus projetistas. Num contexto político, que vivemos, de baixa confiança e grande desigualdade é essencial encontrar formas de fazer com que, cada vez mais os cidadãos sejam capazes de construir juntos o futuro, em vez de se arriscarem-se num cenário dominado por tecnologias que os tornem mais vulneráveis, os exclua ou imponha custos inaceitáveis.
 
Estando em seu início, a quarta revolução industrial, há uma janela de oportunidades aberta para atuação dos governos em todos seus níveis de articulação – municipal, estadual e federal. Em diversas áreas existe a possibilidade de avanços desde a utilização da inteligência artificial na justiça criminal como o uso de drones para melhorar a produtividade agrícola. Não há setor da sociedade imune às mudanças que estão ocorrendo e as que estão por vir. O que temos que garantir é que a Industria 4.0 seja primeiramente e sobretudo centrada no ser humano, que aqueles que tomam as decisões, as lideranças tecnológicas e os cidadãos de modo geral devem colaborar juntos e projetarem sistemas baseados em valores humanos compartilhados. Temos uma grande oportunidade de providenciar que os sistemas emergentes da quarta revolução industrial possam potencializar o bem comum, preservando a dignidade humana e protegendo o meio ambiente para as futuras gerações.
 
Reinaldo Dias é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas. Sociólogo, Doutor em Ciências Sociais e Mestre em Ciência Política pela Unicamp. É especialista em Ciências Ambientais.

 

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