*Por Marisol Penante
Um dos impactos que estamos experimentando em decorrência da pandemia é a relevância da conectividade e dos serviços oferecidos pelas plataformas em nuvem, que possibilitaram às empresas seguirem operando e, com isso, mudaram definitivamente a forma como trabalhamos, vivemos e nos relacionamos. Enquanto o mundo se dá conta da relevância da cobertura e da qualidade da conectividade, as telcos ainda enfrentam desafios de negócio importantes, e competem para avançar em direção ao 5G e ao Edge. Uma questão crítica agora é: será que elas podem evitar o mesmo destino que recentemente se abateu sobre as empresas de mídia quando os hyperscalers de nuvem e as empresas de streaming (OTTs) ao consumidor capturaram a maior parte de seus lucros?
Em um novo estudo global do IBM Institute for Business Value lançado hoje, “O fim dos provedores de serviços de comunicação como conhecemos“, 500 executivos globais de empresas de telecomunicações de 21 países, incluindo o Brasil e outros países da América Latina, foram entrevistados para apresentar sua visão sobre os maiores desafios e oportunidades à medida que transformam seus negócios para capturar o novo potencial desta onda trazida pela implantação do ecossistema de 5G e Edge Computing.
Uma das principais conclusões obtidas a partir das visões dos executivos destas empresas é que para terem o controle do seu próprio destino, as operadoras precisam mudar seu posicionamento. Devem adaptar seu modelo de negócio de provedoras de conectividade e infraestrutura para um Modelo de Plataforma Serviços, que leve em conta o fato de que a própria infraestrutura de suas redes está se tornando uma plataforma em nuvem híbrida e os serviços de dados, voz e multimídia estão gradativamente sendo migrados para componentes abertos.
Para impulsionar essa transformação, algumas empresas de telecomunicações estão adotando plataformas de nuvem híbrida aberta que permitem escala, porém se mantendo no controle da jornada de transformação do negócio e dos seus dados. Muitas estão procurando aproveitar sua posição dominante em conectividade para fornecer uma plataforma de inovação para seus clientes – metade (50%) dos provedores de serviços de comunicação (CSPs) de alto desempenho globais concordam que devem se tornar plataformas de nuvem estratégicas combinando um ecossistema de parceiros diverso, e 45% de todos os entrevistados na América Latina concordam que devem se tornar nuvens seguras com IA e automação.
Mas, à medida que as telcos olham para as lições do passado, o estudo também mostrou uma relutância crescente em confiar nos webscalers tradicionais e nas nuvens de hyperscalers à medida que embarcam nessa jornada. Quase três quartos (74%) dos CSPs de melhor desempenho entendem que a parceria com webscalers, incluindo hyperscalers, para Edge computing e 5G, beneficia principalmente os interesses estratégicos dos webscalers.
A nuvem híbrida mantém as telcos no controle
Ao adotar uma abordagem de nuvem híbrida aberta, as telcos passam a ter o controle de escolha sobre onde instalar partes de sua arquitetura, seja em nuvem pública ou privada, bem como da cadeia de fornecedores parceiros em um ambiente habilitado por uma plataforma aberta que funciona como uma língua franca para os dados. Esta arquitetura, compatível com o padrão da indústria, promove flexibilidade de implantação e colaboração em todo o setor, um elemento necessário para capturar o novo valor da conectividade de última geração. Ela também oferece suporte a mais formas de monetizar as vantagens do 5G – incluindo latência reduzida, largura de banda aprimorada e capacidade de rede dedicada que pode melhorar a qualidade do serviço para os clientes.
A realidade é que o 5G trará custos significativos para as empresas de telecomunicações: licenciamento do espectro, construção de infraestrutura e gerenciamento em tempo real de uma plataforma complexa. No mundo, quase todas as grandes empresas de telecomunicações anunciaram seu compromisso em gastar bilhões de dólares nos próximos anos em infraestrutura para suportar 5G. Por causa disso, há uma urgência financeira cada vez maior para as empresas de telecomunicações transformarem suas arquiteturas de rede em plataformas definidas por software que podem ajudá-las a otimizar os custos a fim de viabilizar o crescimento da rede na escala da demanda de tráfego e de novos casos de uso que o 5G requer. E a promessa que isso representa tem um impacto real no resultado final – 91% dos CSPs de alto desempenho pesquisados esperam superar suas expectativas financeiras atuais em cinco anos com o resultado do uso de Edge Computing e 5G.
Em conversas com clientes em toda a região, tenho notado que um cenário de curto prazo em que as Telcos irão seguir implementando 4G mais rapidamente em suas redes enquanto seguem atualizando suas redes de transmissão para fibra e iniciam a implantação do 5G. Também serão importantes para a região as implementações de acesso fixo sem fio com 5G(FWA) como alternativa de cobertura à banda larga por fibra em regiões específicas.
As empresas de telecomunicações também veem a segurança como um elemento fundamental para sua transformação – 60% dos CEOs de telecomunicações entrevistados acreditam que é importante o fortalecimento da segurança e privacidade dos dados para seus clientes, além de ser uma forma de construir a experiência e a confiança com eles nos próximos 2-3 anos, de acordo com o CEO Study 2021*. Um modelo de nuvem híbrida mantém as empresas de telecomunicações no controle de seus dados, implementando segurança de nível empresarial em todos os aspectos dos fluxos de trabalho que gerenciam, bem como para os de clientes e parceiros. Com uma abordagem de nuvem híbrida aberta, as telcos podem monetizar seus dados com segurança porque continuam no controle sobre as configurações de privacidade, além de integrar segurança e conformidade em toda a amplitude de suas cargas de trabalho de TI.
Fazer uso de maneira inteligente da sinergia entre conectividade e capacidade computacional distribuída será o fator determinante para o sucesso das telcos e de todas as empresas, parceiros e clientes que fazem parte desse ecossistema. Para isso, é importante que elas pensem além da conectividade que provêm hoje, escolham com cuidado e critério seus parceiros de Cloud Hyperscale de forma que possam manter o controle da cadeia de valor da evolução das suas redes, estabeleçam pontos de controle sobre esta nova plataforma, administrando a monetização deste novo ecossistema, e que se preparem para a nova geração de redes e aplicações através das nuvens híbridas.
*CEO Study 2021: https://www.ibm.com/thought-leadership/institute-business-value/c-suite-study/ceo
*Marisol Penante, Líder de consultoria e serviços para as indústrias de Mídia e Telecomunicações na IBM América Latina
Aviso: A opinião apresentada neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software