*Por André de Oliveira
A transformação digital está impulsionando um Renascimento da Indústria em um cenário que se concentra cada vez mais nos clientes e em suas experiências. Nesse cenário, uma oportunidade que tem gerado especial atenção é a capacidade de se oferecer a entrega de produtos e serviços feitos praticamente sob medida. Para tornar isso possível, no entanto, as inovações das áreas de design e de toda a engenharia necessária para a realização dos processos de customização não bastam. Também é preciso destacar a cadeia de suprimentos, que desempenha um papel de apoio fundamental nessa jornada. É a partir da otimização dessas cadeias que, efetivamente, os produtos customizados podem ser fabricados e enviados mais rapidamente.
Estudos internacionais apontam que metade das empresas consideram a digitalização da cadeia de suprimentos e de logística como uma das três principais prioridades de suas organizações. Por outro lado, embora maximizar as ações de supply chain esteja no radar dos líderes, também é verdade que ainda há uma grande lacuna entre os planos e as ações realmente feitas para da digitalização da cadeia de suprimentos. De acordo com levantamentos recentes, quase 90% das companhias globais que não possuem planos de digitalização realmente maduros ainda estão lutando para implementar projetos além da fase de teste. A mesma coisa acontece com as empresas brasileiras também.
Diante desse cenário, não há dúvidas de que a digitalização da cadeia de suprimentos ainda é um desafio – e isso acontece por vários motivos. Entre eles está a urgência por resultados. Outro ponto é que, na tentativa de digitalizar seus processos, muitas companhias acabam adotando dezenas de processos separados, espalhados em cada um dos departamentos envolvidos no sistema logístico. Como resultado, ao invés de quebrar os silos e melhorar a visibilidade, as empresas acabam se vendo diante de barreiras ainda mais sólidas, com muros que impedem a troca de informações e a colaboração entre as áreas.
Uma estratégia integral de digitalização da cadeia de suprimentos é a base para a implementação bem-sucedida de uma estratégia de inovação. Somente assim é possível ter visibilidade e assertividade nas ações, sendo que a capacidade de avaliação completa do processo é o que possibilita a análise sobre o quão competitiva e lucrativa uma empresa pode ser no futuro.
Mas como é possível realizar a digitalização da cadeia de suprimentos de forma completa? Em primeiro lugar, é necessário decidir quais são os indicadores de desempenho (KPIs) que são o foco da companhia – por exemplo, a empresa deseja reduzir custos de maneira sustentável? Ou precisa otimizar processos? Em seguida, a empresa deve entender quais são os pontos que realmente fazem sentido digitalizar de imediato em sua cadeia de suprimentos. Em muitas casos, otimizar esses pontos críticos já é o suficiente para melhorar significativamente o desempenho da operação no geral.
Outro aspecto imprescindível é a transparência dos dados. As informações importantes estão acessíveis a todos os envolvidos na cadeia de suprimentos? Como a transparência dos dados pode ser criada e a cadeia de suprimentos otimizada? Estas são perguntas que uma empresa precisa responder antes de criar projetos para digitalizar sua cadeia de suprimentos.
Isso é especialmente importante, uma vez que muitas empresas ainda carecem de transparência de dados e processos, o que atrapalha diretamente a tomada de decisões mais objetiva. Nesse sentido, a utilização de uma plataforma digital 3D de negócios digital 3D e colaborativa fornece uma solução prática, pois envolve todos os departamentos de uma empresa e oferece uma interface unificada e amigável, além de um ambiente interativo e conectado.
Essa plataforma ajuda as empresas a criarem uma fonte única de dados para todos os seus departamentos. Baseando-se na centralização das informações, a empresa poderá tomar decisões, respondendo a perguntas complexas com um efeito positivo e de longo prazo nos processos de fabricação. Além disso, essa plataforma oferece aplicativos para suporte assistido por computador nos processos de tomada de decisão, ajudando a empresa a avaliar sua cadeia de suprimentos de diferentes ângulos e a otimizá-la sempre de acordo com as demandas do negócio.
Assim, a digitalização da cadeia de suprimeiros ajudará a mudar a maneira como os produtos são fabricados atualmente. Até o momento, existem dois conceitos clássicos na cadeia de suprimentos: produção para estoque (MtS – do inglês Make-to-Stock) e produção sob encomenda (MtO – do inglês Make-to-Order). No futuro, com um processo mais inteligente, a otimização entre esses caminhos deverá ser mais fácil e possível.
No caso de produção para estoque, o ponto-chave geralmente fica no final da cadeia de suprimentos, porque os produtos são fabricados à saída da fábrica com base na demanda geral. Eles então são entregues nos pontos de venda. A especificação de um único produto não é portanto viável. Já a produção sob encomenda, ou sob medida, geralmente se refere a produtos facilmente planejados para os quais o cliente não espera uma entrega rápida ad hoc. O ponto-chave do pedido está logo no início da cadeia de suprimentos – não há produção sem um pedido. Isso conduz a uma demanda maior nos processos de uma cadeia de suprimentos. Assim, ao planejar a cadeia de suprimentos, muitas empresas hoje devem decidir sobre uma compensação entre custos e serviço.
A otimização da cadeia de suprimentos ajudará a criar estruturas mais preparadas para caminhar entre esses pólos. Por exemplo: a indústria automotiva, que hoje vende poucas versões de um mesmo modelo, poderá ter parte de sua produção em estoque, mas a montagem final poderá ser customizada.
Vale destacar, inclusive, que um dos maiores desafios para as empresas no futuro será, justamente, a necessidade de acompanhar os desejos dos clientes, com as experiências personalizadas no centro das atenções. Com isso, será preciso otimizar o tempo e acelerar a entrega de itens feitos sob medida. As empresas têm que começar hoje mesmo a pensar em estratégias para a digitalização de sua cadeia de suprimentos. Somente assim estarão prontas para tomar decisões mais acertadas e ampliar seus ganhos agora e no futuro.
*André de Oliveira, Diretor de DELMIA LATAM da Dassault Systèmes
Aviso: A opinião apresentada neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software