Por Jorge Sukarie Neto, presidente da ABES
A economia brasileira possui aspectos interessantes de se analisar. Um é a percepção geral do cidadão, sempre de tendência mais negativa e crítica, e a outra a que os números efetivamente mostram. O ano de 2013 registrou um aumento positivo na produção interna bruta do país, chegando a surpreender alguns setores que tinham previsões bem mais conservadoras. E mesmo diante deste cenário ainda existe espaço de crescimento para um país de forte tendência empreendedora. O calcanhar de Aquiles, no entanto, ainda está em questões já superadas por economias de estabilidade mais longeva, principalmente no respeito à propriedade intelectual.
O software, protegido pelo direito autoral, está intrinsecamente relacionado ao crescimento econômico, desenvolvimento de novos postos de emprego e inovação tecnológica. O país já avançou muito na proteção à propriedade intelectual. Por exemplo, no caso do software, saímos de um índice de pirataria de mais de 90% na década de 80 e hoje estamos em 53%. O caminho ainda é longo, mas necessário para incentivar a concorrência saudável e leal entre as empresas. Pois o respeito aos direitos de propriedade mostram um amadurecimento e incentivo mútuo entre todos os participantes da indústria.
Estudo recente aponta que ainda temos muito a aprimorar neste aspecto em detrimento de um alto custo ao cidadão. O IDC indicou que, em 2013, os consumidores despenderam 1,5 bilhão de horas e US$ 22 bilhões para identificar, reparar e recuperar suas máquinas pela desproteção ocasionada pelo uso de programas ilegais que as deixaram propensas ao ataque de vírus. Para este ano, a previsão indica aumento financeiro nestas mesmas proporções, 1,4 bilhão de horas ao custo de US$ 25 bilhões. Nesse horizonte, a perda para os usuários brasileiros será de cerca de US$ 700 milhões e 44,2 milhões de horas. Para as empresas nacionais, o prejuízo pode ser muito maior, US$ 4,6 bilhões.
Não é pouco. Essas horas e custos refletem em menos produtividade, perda de informações importantes, muitas vezes de valor inestimável. No entanto, esse prejuízo ainda não se reflete em melhora de consciência do usuário e a busca de um programa mais seguro garantido pelos fornecedores originais de software. O estudo aponta que 43% dos entrevistados que indicaram algum tipo de prejuízo decorrente do uso de software não original, como por exemplo, perda de dados; uso de informações para transações não autorizadas/fraudes; e a invasão de e-mails, de redes sociais e contas bancárias, afirmam não terem instalado atualizações de segurança para deixar suas máquinas menos imunes aos ataques.
A orientação educativa, como a realizada pela iniciativa Empreendedor Legal, criada pela ABES, se torna assim ainda mais importante. Este programa realiza ações voltadas especificamente ao empresário brasileiro, levando informações sobre o correto uso do licenciamento de software. Além de também esclarecer e orientar acerca dos dados relacionados ao prejuízo técnico envolvido no uso de piratas, os riscos legais e os programas mais indicados para gestão de ativos de software.
Sabemos que a escolha final é sempre do usuário, mas reforçamos o nosso empenho em sermos atuantes no papel de orientar as empresas sobre gestão sustentável de TI. Um mercado competitivo se faz com regras equânimes para que todos possam mostrar seu real papel de inovação e produção. A propriedade intelectual é o principal exemplo delas.