*Por Maria Luiza Reis
O panorama tecnológico é um campo dinâmico, caracterizado pela participação de diversos agentes e por uma evolução constante. A inovação mundial é construída a partir de milhares de patentes depositadas anualmente, majoritariamente por grandes empresas. Entretanto, apenas uma pequena parcela dessas invenções será lançada como um produto economicamente viável e se tornará uma inovação real [1].
O desempenho do cientista deve se aliar ao olhar de oportunidade do empresário para que a sociedade possa desfrutar do melhor que a tecnologia tem a oferecer. Identificar o momento certo para oferecer ao mercado um novo produto oriundo de uma pesquisa científica é desafiador. No Brasil, isso é ainda mais complexo [2], devido à falta de uma forte cultura de comércio, em contraste com povos que possuem tradição mercantil.
No cenário global, parcerias estratégicas são estabelecidas, produtos inovadores são lançados, e corporações adotam as mais avançadas tecnologias para expandir seus mercados, melhorar a qualidade e reduzir custos. Essa dinâmica impulsiona a economia mundial [3], gerando empresas de tecnologia com valores de mercado na casa dos trilhões de dólares.
No Brasil, a tecnologia destacou-se especialmente no setor de serviços financeiros, reforçando e simplificando o acesso seguro a serviços online tanto em computadores quanto em dispositivos móveis. Recentemente, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) revelou um levantamento [4] das entidades que mais registram patentes no país. A Petrobras lidera, seguida por um número expressivo de universidades públicas.
A quantidade de patentes detidas por universidades representa uma oportunidade para o Brasil proteger suas inovações científicas e fomentar o avanço tecnológico. Contudo, parece faltar uma participação mais efetiva de empresas no uso comercial dessas patentes para a criação de novos mercados dentro e fora do país. A colaboração entre o meio acadêmico e o setor empresarial é uma oportunidade valiosa [5] para a indústria tecnológica brasileira.
Produzimos teses de doutorado de nível internacional, mas muitas ainda não se converteram em produtos, demonstrando que nosso ecossistema de inovação tem lacunas. Este é um mercado em potencial que pode impulsionar significativamente a economia do país. Para maximizar essa cooperação, podemos adotar três formas principais de interação entre empresas e pesquisadores:
Primeiramente, a empresa pode encomendar uma solução para a academia. Esta modalidade é menos efetiva, pois apenas em casos raros, onde há um desafio particular, o cientista será determinante para decifrar um entrave em uma solução [6].
Segundo, o cientista pode ter a ideia e a empresa desenvolver o produto a partir dessa ideia. Esta modalidade é mais promissora, pois é mais provável que o pesquisador tenha uma ideia inovadora para a empresa desenvolver do que o contrário [2].
Terceiro, empresas podem investir em alunos de doutorado que recebem bolsas para desenvolver pesquisas sobre um determinado tema, mas sem um objetivo definido. Esta última modalidade é um investimento a longo prazo; não há garantias de sucesso, mas é uma forma de encaminhar [1] o desenvolvimento sobre uma especialidade.
Portanto, a cooperação entre empresas e pesquisadores é crucial para a construção de um Brasil mais inovador. Esse modelo de parceria pode alavancar o desenvolvimento tecnológico e econômico do país, promovendo a criação de produtos que realmente façam a diferença no mercado global.
*Maria Luiza Reis é conselheira da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES), engenheira mecânica e PhD em Engenharia Nuclear. As opiniões expressas neste artigo não representam, necessariamente, os posicionamentos da Associação.
Aviso: A opinião apresentada neste artigo é de responsabilidade de seu autor e não da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software