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Trabalho avaliou a participação dos usuários finais no desenvolvimento de softwares

 

A área de desenvolvimento de softwares tem dado cada vez mais atenção ao papel do usuário com vistas à identificação de suas necessidades na criação de novos produtos tecnológicos. Nesse contexto, uma pesquisa desenvolvida no âmbito da pós-graduação em Ciência da Computação do Campus Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) identificou que tanto indivíduos técnicos quanto não técnicos podem contribuir ao produto final. Ao integrar diferentes visões, o produto pode atender melhor as necessidades do usuário e proporcionar uma experiência mais satisfatória, afirma o estudo da Universidade.
 
A relevância desses resultados foi reconhecida durante o Simpósio Brasileiro de Engenharia de Software (SBES) deste ano, que premiou um artigo fruto da pesquisa de mestrado do cientista da computação Eduardo Gouveia Pinheiro, desenvolvida no período de 2016 a 2017, no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação (PPGCC-So) do Campus Sorocaba da UFSCar.
 
O trabalho discute a importância de levar o público-alvo para o processo de desenvolvimento de softwares, destaca a professora Luciana Zaina, do Departamento de Computação (DComp-So) da Universidade, que orientou a pesquisa de mestrado e é uma das coautoras do artigo. "Hoje fala-se muito sobre coletas com o usuário final, sobre especificar as necessidades do usuário etc. E este trabalho ultrapassa as barreiras dessa discussão e traz o usuário final  – público não técnico – para ser participante da especificação do produto", explica Zaina, destacando que é o próprio usuário final quem domina o conhecimento sobre as necessidades relacionadas ao produto e quais as suas aplicações.
 
Dentro das várias etapas de desenvolvimento de software, a pesquisa enfocou a chamada "elicitação de requisitos", fase que investiga tanto os requisitos funcionais quanto da experiência do usuário. "Os requisitos são todas as necessidades de determinado projeto: funcionalidades, modos de operação, atendimento de expectativas específicas, tecnologias empregadas etc. Durante essa fase, um engenheiro de requisitos usa diversas técnicas para levantar todas as necessidades do software de modo a dar base para o seu planejamento", descreve Pinheiro.
 
Para trazer a visão e as necessidades dos usuários na elaboração de softwares, o estudo utilizou uma técnica conhecida como "Proto-persona", variante de outra técnica mais famosa chamada Persona. "As personas são personagens fictícios que representam grupos de indivíduos reais. Essas personas são um instrumento de empatia e compreensão, para que os desenvolvedores de software consigam entender melhor o usuário para quem estão desenvolvendo determinado produto e, assim, atendê-lo satisfatoriamente", define Pinheiro.
 
A partir dessa técnica, os pesquisadores realizaram um estudo experimental com a participação de dois grupos de parceiros, incluindo cinco técnicos da área de Engenharia de Software e oito não-técnicos. "Através da criação das proto-personas, foi possível avaliar quais tipos de características e requisitos que cada tipo de stakeholder [público] achava pertinente para a criação de um software educacional", explica o pesquisador.
 
"O que pudemos ver é que os dois grupos de stakeholders – técnicos [engenheiros de software] e não técnicos [pedagogos] – foram importantes no processo de especificação do produto", avalia Zaina. Pinheiro ilustra uma dessas contribuições. "Por exemplo, durante uma análise sobre como fazer com que estudantes continuassem a usar determinado aplicativo, foi possível notar que os pedagogos focaram em aspectos da diversão do aluno, enquanto os engenheiros de software focaram em potenciais mecânicos para evitar que o aluno se frustrasse com o uso da tecnologia. Ou seja, com o mesmo objetivo, ambos os stakeholders sugeriram maneiras distintas e complementares para estimular o estudante a continuar aprendendo por meio daquele aplicativo", detalha Pinheiro. Dessa forma, o estudo conclui que ambos puderam contribuir com detalhes sobre os requisitos da experiência do usuário no artefato, no entanto, em perspectivas diferentes e complementares.
 
Premiação
 
A consistência dos resultados levou o artigo escrito por Pinheiro e Zaina ao prêmio de 3º melhor da trilha de pesquisa do Simpósio Brasileiro de Engenharia de Software (SBES), evento integrante da The Brazilian Conference on Software (CBSoft). "O SBES já tem 32 anos e conta com um processo rigoroso de avaliação e publicação de trabalhos, com taxa de aceitação de 20%. Este ano, apenas 16 papers foram aceitos", indica Zaina.

Segundo a professora, a revisão dos artigos do SBES é bem criteriosa e considera a contribuição do trabalho para área de Engenharia de Software. O SBES recebeu em torno de 75 submissões para a trilha de pesquisa, dos quais foram aceitos 16. "Uma comissão com três pesquisadores selecionou os sete melhores artigos, entre os que foram aceitos e, desses, elegeu os três melhores", indica ela.
 
O artigo da UFSCar premiado contou, também, com a contribuição e coautoria da professora Tatyana Uchôa Conte, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e da mestre pelo PPGCC-So Larissa Lopes, que auxiliou nos experimentos e nas discussões. O artigo "The contribution of non-technical stakeholders on the specification of UX requirements: an experimental study using the proto-persona technique" pode ser acessado no link https://bit.ly/2Qu6kyn.

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