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Segundo Lauro de Lauro, coordenador do Comitê SaaS da ABES, empresas precisam se adaptar a essa realidade já que o SaaS é a base para uma estratégia bem sucedida de Cloud

 
 
Coordenador do Comitê SaaS da ABES, diretor adjunto da associação e empreendedor; Lauro de Lauro tem uma visão bem direta sobre a adoção do modelo de recorrência na oferta de serviços de TI. “Quem não se adaptar, morre”, diz. Segundo ele, esse é o modelo que o mercado está demandando e, sem nuvem, não há escala. “A equação é simples e financeira”, pontua. O executivo calcula que o turning point do modelo caixa para recorrência não está longe de acontecer e o setor de Telecom está na dianteira da transformação, puxando as outras verticais de indústria. Leia abaixo a íntegra da entrevista.
 
Como surgiu o comitê de software como serviço?
Montamos o comitê em 2014 pela demanda de mercado. SaaS nada mais é que uma empresa que se torna uma fornecedora de serviço. A natureza de uma desenvolvedora de software é de desenvolvimento, ou seja, ela fez um produto, que normalmente é licenciado, e que tem um caráter de propriedade, já que se compra o produto. Esse é o modelo comum de aquisição de software. Quando se vai para um modelo SaaS, a empresa não está vendendo nada. Ela está na economia da recorrência. Como então mudar de um modelo de negócios decorrente de uma venda para um modelo que se coloca um usuário por mês? Esse é o maior desafio da transformação digital.
 
Como avalia a maturidade do mercado para a oferta do SaaS?
O modelo que o mercado deseja é o modelo da recorrência. Então, os fornecedores têm que se adaptar. Quem não for, morre. Essa é a realidade. O turning point está exatamente na equação financeira. A base de SaaS é nuvem. Tecnologicamente, se a aplicação não escalar em nuvem não está adaptada. Hoje é possível ter plataforma como serviço e infraestrutura como serviço, ambos baseados em nuvem. SaaS sem estar em nuvem não tem escala financeira suficiente. O conceito de ter o modelo SaaS é conseguir escalar o volume de clientes. Assim, diminui-se os custos operacionais. Essa é a sacada no SaaS. Quando se tem um modelo de negócios onde tudo é precificado, e tudo é customizado para um cliente e não para um segmento, tudo fica mais caro e mais complexo. Então o modelo é: como é que eu transfiro aquela minha propriedade intelectual para um modelo que eu aglutine muitos para contratar e consiga com isso reduzir custo operacional e ampliar o leque de clientes. Essa é a equação. E isso não está acontecendo.
 
Como é que a ABES, capitaneada pelo comitê, está fomentando oportunidades de negócios?
Temos duas realidades simultâneas. A realidade das startups, que já nascem disruptivas, naturais no conceito de escalar e em nuvem. De outro lado empresas constituídas, que é a grande base dos cerca de 900 mil associados, com vários anos de existência.  O desafio é mostrar para a estabelecida como implantar o modelo startup. Não é muito simples porque ainda não temos fomento. Para uma empresa já estabelecida virar essa chave é preciso investir. Ela precisa recodificar seu software, rever estratégia de marketing, rever posicionamento. Fazer isso com o caixa atual, baseado no modelo tradicional é difícil. Passamos nos últimos dois anos por uma fase de conscientizar as empresas estabelecidas do modelo de negócios que é irreversível. Hoje, uma empresa consegue sobreviver sem nuvem e sem ser SaaS por muito pouco tempo. É um processo de evangelização e não é uma coisa simples. Temos órgãos de apoio também, como a Softex.
 
O mercado de Telecom está puxando a digitatização?
Não diria que é telecom. A disruptura aconteceu no processo de mobilidade e telecom é a base. Então, a partir do momento que o smartphone passou a ter capacidade de execução de aplicativo o cenário mudou. Hoje se consome a aplicação, é o que está mais perto da necessidade humana e dos negócios. E isso é software. Como traduzir processos, escalar sistemas de linha de produção sem software? É impossível. A mobilidade é que promoveu a aceleração e junto com ela, a nuvem. A nuvem trouxe para o nível do desenvolvedor a capacidade de infraestrutura que ele nunca teve. A mesma coisa está acontecendo com IoT. Os kits para algumas aplicações, como monitoramento de saúde, estão bem baratos. Isso permite a democratização da solução. Qualquer um com um pouco de conhecimento, pouco investimento e com uma conta em um provedor de nuvem pode fazer laboratório. Então, a explosão do IoT também está relacionada a disponibilidade da nuvem. A computação de baixo custo somada à mobilidade promoveu então esse movimento.
 
Como os cloud brokers podem contribuir para esse movimento?
Nuvem é simples na oferta e complexa nas opções. Hoje temos alguns como Google, AWS, Microsoft, IBM e cada uma delas tem a sua capacidade do ponto de vista computacional e principalmente uma determinada quantidade de serviço. Escolher o melhor também é um desafio. Então, cada vez mais o papel do Cloud Broker é oferecer abstração para a camada de cima que vai desenvolver. Existem empresas que precisam de cinco capacidades diferentes para a mesma aplicação. O broker então tem o papel de aglutinar e simplificar as camadas. Ele já é um facilitador, principalmente para o ambiente Enterprise. As pequenas, startups têm que contratar SaaS. Não têm opção. É assim no mundo e no Brasil, cada vez mais.
 
O que a ABES faz para incentivar o modelo de escala?
Fizemos uma pesquisa sobre o panorama de SaaS no Brasil e percebemos uma realidade cruel. O conceito ainda não está difundido no mercado. Estamos em momento crítico do meu ponto de vista porque têm empresas que não sabem o que é SaaS. Por isso, investimos nesses últimos dois anos em eventos para difundir o conceito. Para uma transformação são preciso três apoios. O primeiro é marketing, que exige um modelo especial para SaaS, baseado no digital. O segundo é plano de negócios, que determina caminhos para essa mudança de modelo de negócios, do tradicional para o recorrente. Por fim, o processo transacional para implementar essa mudança. Quem tem capital ou aporte de fomento faz uma spinoff e começa a puxar a inteligência, transforma e aí incorpora. Ou seja, nada técnico como desenvolvimento de código. É tudo relacionado à gestão.
 
Como as novas tecnologias disruptivas como Inteligência Artifical e blockchain vão impactar?
No contexto das empresas constituídas, do mesmo jeito que estamos atrasados na adoção de nuvem, também estaremos para as novas tecnologias. O Brasil tem um gap nesse sentido. Não é capacidade, não é processo e sim a trava da disrupção.
 
Até 2020, todos os softwares terão IA segundo, o Gartner. Concorda?
As projeções do Gartner sempre são agressivas para o Brasil. Para o mundo, são precisas. No caso do Brasil eu adicionaria 3 anos. Lançar plataformas cognitivas hoje é questão de cérebro. Se souber fazer, é fácil. O desafio é mudar o negócio. É um movimento de fora para dentro. Do cliente para a empresa.
 
No quesito segurança, como você vê o impacto na massificação de nuvem?
Não há mais resistência em adoção de nuvem por conta de segurança. Hoje ela já faz parte do negócio, passou a ser natural ter essa premissa. Segurança você tem que ter para minimizar risco, mas ele existe. Mas a indústria de segurança está tão pronta ou até mais ativa que a indústria de IoT ou nuvem. Os fabricantes estão se movimentando para trazer a segurança embarcada em dispositivos. O Google lançou um chip que tem criptografia para embarcar em dispositivos. A Intel também está lançando.
 
Como você vê a oferta de SaaS no Brasil em 3 anos?
A curva de novos entrantes vai subir a uma velocidade de até 40% de crescimento ao ano. Isso está acontecendo já fortemente. A RockContent fez uma pesquisa sobre SaaS em Startups e mapearam 500 empresas e mostra isso. A transformação é mais lenta e terá muita mortalidade. Nesse universo também vamos perder uma quantidade boa de empresas estabelecidas por não conseguirem fazer a transformação.

Fonte: Infor Channel

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