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O Advanced Institute for Artificial Intelligence (AI², https://advancedinstitute.ai) foi lançado oficialmente em 26 de fevereiro de 2019 no kickoff workshop, realizado no Núcleo de Computação Científica (NCC) da Unesp. O evento contou com a presença de pesquisadores de diversas universidades do país e membros de importantes empresas parceiras que atuam na área de inteligência artificial (IA).
 
Durante a manhã, pesquisadores discutiram a estrutura jurídica e a gestão do instituto, bem como seus principais objetivos e a melhor forma de atingi-los. “No nosso entendimento, o AI² é um tipo de iniciativa que ainda não existe no Brasil”, disse João Paulo Papa, professor no Departamento de Computação  da Unesp, campus de Bauru, que trabalha com a aplicação de técnicas de IA na área médica para o auxílio no diagnóstico de câncer, e também nas áreas de engenharia do petróleo e segurança do trabalho. “O instituto auxiliará a resolver entraves que muitas vezes encontramos no Brasil na relação entre o meio acadêmico e a indústria”, completou Papa.
 
Hélio Waldman, reitor da Universidade Federal do ABC (UFABC) entre os anos de 2010 e 2014, ressaltou a importância do workshop e da criação do AI² para que o Brasil acompanhe a tendência global de desenvolvimento tecnológico na área. Muitos países possuem políticas de Estado voltadas especialmente para inteligência artificial, enquanto no Brasil as discussões sobre o tema ainda são incipientes.
 
 “O encontro reuniu pesquisadores que estão conscientes e preocupados em criar um instituto para contribuir na capacitação brasileira na área de IA e que reconhecem que não podemos ficar muito mais atrasados do que já estamos”, comentou Waldman.
 
Nestor Caticha, pesquisador de Física na USP, argumentou no mesmo sentido. “Hoje estamos à beira de uma revolução, análoga à Revolução Industrial, que terá consequências que ainda desconhecemos”, comentou Caticha.
 
Para ele, o Brasil pode escolher ficar de fora dessa revolução ou pode tentar acompanhá-la. “A iniciativa do AI² visa melhorar o diálogo entre a indústria e a academia para que nosso país não fique de fora do grupo de países civilizados nesse século”, acrescentou Caticha.
 
Academia e iniciativa privada
 
Durante  a tarde, membros de empresas parceiras apresentaram desafios em suas áreas de atuação no setor privado que poderiam ser enfrentados utilizando técnicas de IA, com o objetivo de abrir possibilidades de colaboração com os pesquisadores do meio acadêmico.
 
O Experian DataLab, por exemplo, foi representado por Renato Vicente, diretor de Data Science para a América Latina. A empresa será a primeira parceira do AI². Essa colaboração se dará por meio de um projeto para detecção de fraudes em redes elétricas utilizando técnicas avançadas de aprendizado de máquina e processamento de imagens de satélites.
 
“As apresentações dos nossos parceiros do setor privado foram de altíssima qualidade”, disse Sérgio Novaes, diretor do Núcleo de Computação Científica da Unesp. “Eles apresentaram problemas de grande relevância em diversas áreas que são muito promissores para o estabelecimento de parcerias no contexto do AI²”.
 
Entre as empresas parceiras também está o Grupo Fleury, que foi representado por Gustavo Meirelles, gestor médico de Radiologia, Estratégia e Inovação e sócio e CEO na Ambra Saúde, empresa de software de nuvem de gerenciamento de dados e imagens médicas.
 
“O evento foi excelente, pois tivemos a oportunidade de conhecer outras empresas que participarão do instituto e, juntos, teremos a oportunidade de lutar por um bem comum para o Brasil, que é o desenvolvimento da IA e de soluções advindas do uso da tecnologia”, disse Meirelles.
 
Jorge Augusto Mondadori, responsável pela estruturação do hub de Inteligência Artificial do Sistema FIEP no Paraná, explorou possibilidades de associação com o AI² no que diz respeito ao treinamento de especialistas em IA.
 
Mauro Zackiewicz, coordenador de Inovação do Centro Paula Souza, também ressaltou a necessidade de treinamento em massa nessa área.
 
Para Henrique Sinatura, sócio e diretor administrativo do Boston Consulting Group (BCG), e líder do hub BCG Gamma no Brasil, o AI² poderá alavancar sua rede de profissionais com experiência no tema e ajudar a trazer a expertise necessária para seus clientes.
 
“Atuamos na implementação de soluções de IA nos negócios dos nossos clientes”, disse Sinatura. “Os campos de IA e de aprendizado de máquina são amplos e, por mais que tenhamos uma rede global de profissionais, é muito importante estarmos próximos da academia para termos uma visão mais atual, relevante e profunda em relação a tópicos específicos pelos quais somos procurados por nossos clientes”.
 
Sérgio Siqueira, arquiteto de soluções da HPE, ressaltou a importância do AI² no sentido de que o Brasil precisa gerar e disseminar seu próprio conhecimento, e não apenas utilizar conhecimentos importados de outros países que, muitas vezes, não se adaptam à nossa realidade.
 
“A HPE trabalha muito próximo do mercado corporativo e acho fundamental, não apenas para a HPE, mas para todas as empresas que trabalham com o mercado corporativo, ter iniciativas como o AI² que desenvolvam conhecimentos e inovações para podermos aplicá-los dentro da realidade brasileira, de acordo com o mercado brasileiro”, disse Siqueira.
 
As empresas Nvidia e Huawei também tiveram a oportunidade de mostrar a visão e a estratégia global das empresas em IA e discutir as possibilidades de colaboração com o AI².
 
Sem fins lucrativos
 
O AI² não terá fins lucrativos e prezará pela transparência, inclusão e transversalidade de suas ações. O instituto, além de fomentar a formação de pessoal qualificado na área, promoverá discussões sobre a ética do emprego da inteligência artificial e o seu impacto na sociedade.
 
“Nós achamos que sabemos quais serão os efeitos da IA na sociedade, mas acredito que haja muitas implicações imprevisíveis”, disse Esther Colombini, pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Portanto, temos que estar prontos para todas essas possíveis implicações, sejam elas sociais, éticas ou econômicas. Não podemos ser pegos de surpresa.”
 
Durante o workshop, os pesquisadores discutiram políticas de governança e de filiação ao instituto e questões legais relativas à fundação de apoio que servirá de interface entre o meio privado e a academia. Essas políticas estão sendo aprimoradas e serão colocadas em prática nas próximas semanas.
 
A expectativa dos membros do AI² é a de que ocorra um grande número de novas adesões ao instituto, tanto de pesquisadores como de empresas interessadas em fazer uso da expertise acadêmico.

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