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*Marcelo Lombardo
 

Big Data está mudando o mundo, e se você ainda não sabe muito bem o que é isso, antes de continuar leia o meu artigo anterior que explica de forma rápida e objetiva o que é Big Data, clicando aqui. Sem ler isso, você certamente não vai entender muito bem daqui pra baixo.
 
Big Data pode ajudar muito a humanidade. As possibilidades são empolgantes, e pronto, chega de ingenuidade por hoje. Em toda grande revolução na história sempre coube a pergunta: mas quem lucra com isso? – e com o Big Data não é diferente.
 
Para descobrir, temos que entender a cadeia de valor do Big Data, que é formada por três camadas distintas:
 
1 – Os dados brutos, que são conjuntos não estruturados de informação em grande volume, como os históricos de ligações telefônicas de uma operadora, o histórico de navegação na Internet das pessoas, o movimento de vendas diárias de uma rede de supermercados, as informações sobre o comportamento das pessoas nas redes sociais, e por aí vai. Em alguns casos, isto é visto como informação inútil ou descartável pelo seu proprietário, e vai para a lata de lixo.
 
2 – A capacidade técnica de processar os dados, que necessita de hardware de alta capacidade e desempenho, software especialista e principalmente, de mentes brilhantes para criar os algoritmos.
 
3 – As ideias do que fazer para explorar comercialmente. Pois de nada vale tudo isso se não temos ideias de como usa-lo.
 
Sabendo disso, faça agora a sua aposta: aonde você acha que está a grana? Nos dados, na tecnologia ou nas ideias?
 
Para responder, vou contar uma história de um cara chamado Oren Etzioni. Esse sujeito percebeu que os preços de tarifas aéreas variam muito conforme o tempo, e que isso não é linear. Às vezes você consegue um preço melhor na véspera do voo do que um mês antes. Simplesmente “comprar antes” não significa “comprar mais barato”, ao contrário do que se pensa.
 
Oren usou um banco de dados com centenas de milhares de preços históricos de voos e criou com sua equipe algoritmos que conseguem prever com qual antecedência você deve comprar a passagem de qualquer lugar para qualquer lugar, pagando o menor preço. Com isso, ele criou um serviço online chamado Farecast.com, que acertava o melhor preço em mais de 90% dos casos. Foi um tremendo sucesso, e a Microsoft acabou comprando a empresa dele em 2006 por algo entre 75 e 115 milhões de dólares (o valor exato nunca foi revelado).
 
Ou seja, ele usou uma grande ideia e simplesmente pagou pela tecnologia. Isso quer dizer que ideias de uso e comercialização do dado valem mais do que a tecnologia, que pode ser comprada ou contratada.
 
Mas espere. A história não acabou. Dois anos depois, o Google comprou a ITASoftware, empresa que fornecia os dados para a Farecast.com por 700 milhões de dólares. E agora, quem é o bom? Resposta: ter os dados é o mais valioso de todos.
 
Mas espere um pouco, eu tenho ainda mais uma história, desta vez do Jeff Bezos, o legendário dono da Amazon.
 
A Amazon.com, em seus primórdios como livraria online, cresceu graças a uma banca de críticos literários que virou celebridade, ao menos por um tempo. Esses caras eram os maiores influenciadores do público leitor americano com as suas análises e sugestões de livros, que fizeram as vendas da loja online dispararem. Mas por que ”por um tempo”? Por que os técnicos deles descobriram que podiam usar algoritmos que analisam todos os dados históricos de comportamento e compra dos clientes da loja para prever “qual livro cada pessoa vai querer ler em seguida”.  Quando colocaram o novo sistema de sugestões no ar, surpresa: as vendas da loja online triplicaram, e a ilustre banca de críticos acabou dispensada.
 
Moral da história:
 
– Se você vende a tecnologia para o Big Data, nunca vai ter um ganho extraordinário. Tecnologia é cada vez mais um commodity.
 
– Se você tem uma ideia genial de monetarização do uso dos dados, você pode ganhar muito dinheiro por algum tempo. Mas quanto tempo? Pelo tempo que o dono dos dados não perceber que você está lucrando alto com a lata de lixo dele.
 
– Se você é quem possui os dados, você tem a torneira de qualquer ideia na sua mão, e a posição tende a ser muito lucrativa com o menor esforço.
 
– A única coisa mais lucrativa do que ter os dados é ter tudo: os dados, a tecnologia e as ideias, assim como a Amazon.
 
Mas o artigo é sobre como ganhar dinheiro com o Big Data, certo? Então aqui vai a dica, embasada nas histórias acima: guarde todos os históricos digitais de tudo que o seu negócio faz, por mais inútil que essa informação pareça. Guarde TUDO. Isso inclui logs de acesso ao web site, o que era mostrado em cada página quando recebeu o clique, e principalmente, cada interação com o consumidor. Abra mais espaço para que essa interação aconteça e continue também no pós venda.
 
Essas informações, futuramente podem ser a peça que falta no quebra cabeça seu ou de alguém. Quer ver um exemplo?
Recentemente, o mesmo Jeff Bezos da Amazon comprou o jornal Washington Post. Ele pagou caro por uma empresa à beira da falência. Por que ele fez isso? Minha resposta: para por as mãos no histórico de comportamento e interesses dos leitores online do jornal, pois quando ele cruzar isso com as vendas da Amazon, ele vai ser capaz de prever que produtos vão vender mais amanhã ou na semana que vem, com base nas noticias acessadas hoje pelos leitores.
 
Então, lembre-se da dica: espaço de armazenagem é barato hoje em dia, portanto guarde tudo. Talvez um dia você tenha uma ideia fantástica de como usar estas informações, ou então as venda para alguém com uma ideia, e quem sabe você até se lembre de mim nesse momento e queira fazer uma doação de 10%.
 
Muito sucesso (e não esqueça dos meus 10%).
 
*Marcelo Lombardo, fundador da NewAge Software S/A, inventor da plataforma CoreBuilder e arquiteto dos softwares NewAge ERP e Omie. 

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