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Trabalhar sempre como se estivesse começando é a dica do presidente do Conselho

 

O empresário Jorge Sukarie, atual presidente do Conselho da ABES e que ocupou a presidência da entidade por dois mandatos (2004-2007 e 2013-20015), é o segundo entrevistado da série especial de matérias e entrevistas que o Portal ABES está publicando para celebrar os 30 anos da associação.  
 
Sócio-fundador e presidente da Brasoftware, associada desde 1989, Sukarie fala sobre sua experiência à frente da presidência da ABES, comenta as políticas voltadas à inovação tecnológica e avalia o atual cenário e as perspectivas para o setor de TI no país.
 
Desde quando a Brasoftware é associada da ABES? Quais os motivos iniciais que o levaram a se associar?
A Brasoftware é associada desde 1989, quando ainda não tínhamos um marco legal para o setor, o índice de pirataria no Brasil era superior a 90% e vivíamos a reserva de mercado. Nosso objetivo com a filiação era participar mais ativamente da criação de um ambiente propício ao desenvolvimento do setor de software no Brasil, das discussões de proteção à propriedade intelectual e de uma maior liberdade de escolha nos padrões a serem adotados em nosso mercado.
 
Desde quando você participa da direção da associação?
Eu rapidamente me engajei no Conselho da Entidade. Não me recordo a data precisamente, mas desde o início dos anos 90 me tornei conselheiro. Alguns anos depois, me tornei vice-presidente do Conselho e só fui assumir pela primeira vez a posição de Presidente Executivo na gestão 2004–2007. Depois, regressei ao Conselho como presidente por três anos, vice por outros três anos e reassumi a presidência executiva na gestão 2013–2015. Agora, volto ao Conselho como presidente. Dá para notar que meu envolvimento com a ABES é e foi intenso, praticamente desde a sua fundação.
 
Quais as transformações que verifica no setor de TIC brasileiro quando compara o período de 2004-2006, do seu primeiro mandato à frente da ABES, e o período de 2013-2015?
Na minha primeira gestão de 2004–2006, vivíamos um momento intenso para o Brasil, na primeira gestão do presidente Lula, com os preços das commodities lá em cima, e o país na crista da onda. O setor de TIC foi contemplado com o Plano Brasil TI Maior, cheio de supostos incentivos, mas que ao final pouco contribuíram realmente para o desenvolvimento do setor. Já na segunda gestão, enfrentamos o início do que estamos vivendo hoje, que é este ambiente conturbado na política e na economia do País, no qual as poucas conquistas que o setor de TIC havia conseguido na última década foram enfraquecidas.
 
Quais os principais desafios que os empresários do setor deverão superar nos próximos anos?
Eu costumo dizer que ser empresário no Brasil é coisa para gente persistente e determinada, para ser capaz de enfrentar a panaceia legal e tributária do País. Especialmente nos próximos anos, teremos de conviver ainda com os impactos negativos aos negócios das crises política e econômica, além de combater os crimes de corrupção, que passaram de todos os limites. Portanto, a previsão é de anos bem desafiadores pela frente, mas estou seguro de que o Brasil vai sair desta e continuará sendo uma das dez maiores potências do mundo, e servirá no futuro de exemplo para outras nações no enfrentamento à corrupção.
 
Em sua opinião, quais os diferenciais que a ABES oferece aos seus associados?
A ABES oferece uma série de serviços importantíssimos para empresas de todos os portes. Dentre eles, gostaria de destacar a consultoria jurídica, certidões, orientações e dicas legais, eventos setoriais, pesquisas de mercado, seguro saúde em condições especiais a seus associados, entre outras. Além disso, trabalha arduamente para criar melhores condições de desenvolvimento ao setor de TIC no Brasil, discutindo políticas públicas, marcos legais, inovação, fomento, etc.
 
Poderia citar as frentes de trabalho nas quais, em sua avaliação, a ABES deverá focar sua atuação nos próximos anos?
Nos últimos meses, vivemos um cenário de incertezas, no qual a posição da ABES foi mais conservadora e conciliadora, tentando não degredar ainda mais o ambiente inóspito no qual temos sido obrigados a fazer negócios. Minha sugestão agora é a de se elaborar uma proposta positiva para o setor e apresentar ao Governo que estiver à frente do País, quer seja da presidente Dilma ou qualquer outro que venha a assumir nos próximos meses. Esta proposta deveria focar, inicialmente, na retomada do crescimento econômico do País, em incentivos à inovação com as novas tecnologias que se apresentam, fontes de fomento, discussão de propostas para a melhoria nas relações de trabalho e educação, ou seja, na formação de mão-de-obra para o setor.
 
Quais as suas dicas de gestão aos novos empreendedores que estão estruturando seus startups de tecnologia e software?
Se eu tiver de resumir meu conselho a uma única palavra, ela seria “perseverança”. Empreender no Brasil não é fácil e só com um trabalho sério, dedicado, idôneo, com visão de longo prazo e, principalmente, com muita perseverança, é possível ter sucesso.
 
Voltando à Brasoftware, como a atuação/serviços da empresa evoluiu ao longo dos anos?
A Brasoftware de hoje é complemente diferente da empresa que fundei há três décadas. Começamos como revendedores de softwares de caixinha, entregues em caixa em disquetes de 51/4 e 8 polegadas para CPM e PC. Atualmente, somos provedores de tecnologia, oferecendo soluções na Nuvem a nossos clientes. Vocês podem imaginar a evolução tecnológica que vivemos ao longo de quase 30 anos de atuação e os desafios para continuar sendo sempre inovadores e sair na frente para manter a posição de liderança de mercado que a Brasoftware sempre teve. Por outro lado, este desafio da evolução tecnológica é o combustível para a nossa motivação de trabalhar sempre como se estivéssemos começando ou reinventando o negócio.
 
Quais são as suas expectativas para o setor de TIC nos próximos anos?
O setor de TIC vai evoluir ainda mais rapidamente nos próximos três a cinco anos do que evoluiu nos últimos 10 anos. As novas tecnologias nos permitem criar negócios disruptivos, como, por exemplo, Airbnb, Netflix, Uber, entre outros, que nos desafiam a rever a legislação, tributação, relações trabalhistas e tudo mais que tínhamos na velha economia e que, hoje, devem ser encarados sob esta nova ótica de serviços que vêm mudando a maneira como interagimos. Isto traz uma nova oportunidade para as empresas em todos os segmentos da economia e para o setor de TIC, que é o implementador destas tecnologias, um novo mundo de possibilidades de negócios. Neste cenário, as empresas do setor, como a Brasoftware, e as associações de classe, como a ABES, têm um papel fundamental para garantir que esses recursos tecnológicos estejam acessíveis e que o marco regulatório para que elas possam se desenvolver esteja disponível.


Veja também as entrevistas com os ex-presidentes da ABES Carlos Sacco e Daniel Boacnin.

 

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